Diante da pressão dos estudantes, o reitor da Universidade de Brasília (UnB), Timothy Mulholland, resolveu quebrar o silêncio. Contrariando os apelos dos manifestantes, ele reafirmou, ontem, durante entrevista coletiva à imprensa, que não pretende deixar o cargo. Segundo Timothy, isso só acontecerá caso haja determinação judicial. "Eu entrei na forma da lei e vou sair na forma da lei", disse. Na noite de ontem, os Ministérios Públicos do DF e Federal entraram com ação na Justiça de improbidade administrativa contra o reitor e o decano de Administração, Érico Paulo Weldle. Tudo por causa de gastos milionários no apartamento funcional que era ocupado por Timothy, na 310 Norte.
A saída de Timothy é uma das exigências dos estudantes, que ocupam, desde quinta-feira última, a reitoria da universidade. O reitor garantiu que se sente à vontade para assumir a função, mesmo sendo alvo de investigação pelo MP. "Não tenho apego ao cargo. Estou exercendo um mandato e tenho que cumprir", afirmou. Timothy precisou ser escoltado por seguranças quando um grupo de alunos o cercou na saída do Centro de Excelência em Turismo (CET), onde concedia entrevista a imprensa.
Ele estava acompanhado do vice-reitor, Edgar Mamya, e professores de decanatos estudantis. Em nota oficial, a assessoria da UnB reafirmou, ontem, que a invasão do prédio da reitoria está comprometendo o funcionamento da universidade. Segundo a nota, pelo menos 20 serviços administrativos estão paralisados, o que impede a elaboração da folha de pagamento de docentes, estagiários, prestadores de serviços e servidores técnicos.
Além disso, a reforma da Casa dos Estudantes, o pagamento de bolsas estudantis e diversos projetos de ampliação da UnB, bem como a realização de concursos para contratação de professores e servidores para os campi do Gama e Ceilândia também estão prejudicados. "A expansão da UnB está em xeque", disse o reitor. Segundo Timothy, existe uma equipe de negociação para que os jovens tenham seus pleitos atendidos.
Para o próximo semestre, Timothy afirmou que pretende aprofundar as discussões sobre o papel das universidades e discutir as normas para escolha de dirigentes, duas das reivindicações do movimento estudantil. "É uma hipótese. Nós nos comprometemos a lançar esse processo a partir desse semestre", afirmou.
Há sete dias, cerca de 200 alunos ocuparam o prédio da reitoria, onde estão centralizados todos os serviços. Na tarde desta segunda-feira último, o movimento recebeu reforço de mais mil alunos e o prédio foi completamente tomado, no momento em que os alunos forçaram a rampa de acesso. Haviam 60 seguranças, mas eles não foram suficientes para impedir a entrada dos manifestantes. Houve pancadaria e alguns alunos e funcionários da UnB registraram ocorrência na delegacia por agressão.
Durante o seu pronunciamento, o primeiro desde a invasão, Timothy condenou o confronto. "Tivemos uma barreira de segurança que foi violentamente agredida. Isso é inaceitável", disse. Segundo ele, o patrimônio público está sendo depredado e existe a informação de que algumas vidraças foram quebradas. "O prédio inteiro está entregue aos estudantes. Eles são responsáveis por tudo ali", advertiu.
Depois de quase 15 minutos de entrevista, um grupo de estudantes cercou o local. Ao perceber a aproximação dos universitários, o reitor teve de interromper a coletiva e foi embora rodeado por estudantes munidos de cartazes que diziam "Fora, reitor!" Ainda neste instante, os manifestantes gritavam: "Oh seu reitor, preste atenção, caneta cara não resolve a educação". O ministro da Educação, Fernando Haddad, disse, ontem, que pode intermediar a negociação entre alunos e reitoria.
O dia de ontem foi tranqüilo na sede da reitoria. Em reunião com os estudantes, à tarde, o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) Nacional, Cezar Britto, se comprometeu a falar com o reitor pedindo o reabastecimento de água e energia do prédio da reitoria. O fornecimento foi cortado novamente, na última segunda-feira, depois do confronto entre estudantes e seguranças da UnB. Cezar Britto também prometeu manter contato com a PF, a fim de evitar uma invasão repentina do local, até a próxima sexta-feira.
Pela manhã, os alunos que aderiram ao movimento reafirmaram a continuidade da ocupação, enquanto o reitor permanecesse no cargo. Ao contrário da última segunda-feira, dia da invasão, os alunos se mantiveram calmos e preferiram aproveitar o tempo livre para promover reuniões, atividades culturais e aulas públicas, ministradas por professores simpatizantes à causa.
Porém, o acesso aos andares superiores da reitoria permaneceu fechado. Somente estudantes pertencentes ao movimento puderam subir. O deputado federal e membro da comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, Chico Alencar (PSOL-RJ), esteve no prédio e disse que os estudantes estão sendo desrespeitados com o fato de não terem água e energia.
Também ontem, um grupo formado por estudantes do movimento manteve as negociações com a PF. A esperança, agora, é manter o diálogo até a próxima sexta-feira. Segundo a Assessoria de Comunicação da PF, a ordem pode ser cumprida a qualquer momento. Mesmo assim, os policiais ainda buscam uma forma mais pacífica, sem necessidade do uso de força. O MP também mandou representantes ao local para tentar um acordo. Na noite de ontem, um estudante (João Vitor) caiu da rampa da reitoria e levado pelos bombeiros ao hospital. Ele caiu de uma altura de três metros.
Fonte: Jornal de Brasília e CorreioWeb
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