quinta-feira, 17 de abril de 2008

Cartilha da cidadania

Um dos preceitos básicos da educação é formar e orientar cidadãos conscientes de seus deveres, que sejam capazes de cobrar dos órgãos e instituições competentes os direitos que consistem a todo indivíduo. Como se não bastasse repercutir entre os alunos essa valorosa lição, professores e a comunidade da Escola Classe 60, da Expansão do Setor O, enfrentam todos os dias o desafio de transformar o futuro de crianças da localidade, freqüentemente ameaçada pelo problema da violência.

Com o intuito de estender um auxílio às iniciativas de esforço da escola, como a participação no Conselho de Segurança Escolar, o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) escolheu a tarde de ontem para lançar, em parceria com a Polícia Militar, uma Cartilha do Cidadão, que instruía os jovens de 5ª a 7ª série sobre a respeitável relação que tem de haver entre a polícia e o cidadão comum.

A escola foi palco de um homicídio em 22 de abril de 2002, cometido por um aluno que resolveu acertar contas com outro estudante. Apesar de ainda conviver com o fantasma da violência assolando as portas, a escola já consegue viver experiências diferentes e mais animadoras. A unidade desenvolve oficinas de paisagismo, torneios de futebol, pintura, dança, xadrez, encontro de jovens e até gincana para as mães de alunos. "O aluno envolvido com a violência é agressivo, dorme em sala de aula. Tudo começa na escola. Então, tentamos usar esse espaço para resgatar essas crianças", explica a diretora Rosângela Rodrigues. Ao confessar que ainda precisa do Batalhão Escolar, Rosângela diz que, dos 1250 alunos distribuídos nos turnos da manhã e tarde, 20% têm algum envolvimento com delitos, como porte de armas, roubos e tráfico.

A aluna e um dos 12 membros do Conselho de Segurança Escolar, Ingrid Lorraine, 14 anos, discursou para a multidão de pais, professores, alunos e autoridades presentes. Aproveitou a oportunidade e pediu a Secretaria de Justiça, Direitos Humanos e Cidadania (SEJUS) que providenciasse a ampliação do espaço físico da escola e até a construção de auditório e quadras para as atividades. Segundo ela, os alunos ficaram prejudicados. "É muito legal essa cartilha. Antigamente, tinha muita briga na escola e agora damos apoio ao colega. A pior coisa é entrar na violência. Se você entrar, não sai", relata ela, que diz ter perdido um primo que era ligado ao tráfico.

Presidente do Conselho de Segurança Escolar, Somilda de Fátima conta que os próprios alunos da escola elegem os doze membros (alunos), que também se reúnem mensalmente com professores para discutir medidas educativas para se melhorar o convívio. "Nós achávamos que não tínhamos o direito de fazer uma denúncia ao MPDFT contra aluno. Conseguimos chamar a comunidade para a escola", comemora.Fileiras extensas de cadeiras colocadas no pátio da escola acolheram crianças alegres, que não paravam de gritar antes dos depoimentos das autoridades.

Representantes da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Sejus, MPDFT, Procuradoria Geral da República, desembargadores e corregedores deram contribuição na explicação sobre a importância da cartilha. "Existe um elevado desconhecimento dos nossos deveres. Quando os policiais abusam de algum cidadão, muitas vezes as pessoas não sabem a quem chamar", alega o promotor-chefe de Ceilândia e do Juizado Especial Criminal, Thiago Pierobom. Ele afirma desejar que todos os professores e escolas da Rede Pública recebam o material. Alunos e comuniadde agradecem.

"A cartilha é interessante porque ensina como tratar os policiais e como a gente tem que ser tratado. Hoje eu tive uma lição de vida", aprova Lucas Fernandes, de 13 anos. "São essas oportunidades que esse tipo de comunidade têm para reivindicar. Por isso, quando tem um evento, é hora de pedir", entusiasma-se Solange Santos, voluntária e 'Amiga da Escola'. O vigilante Reginaldo de Moraes, pai de uma da 5ª série, também apóia a visita de entidades. Segundo Moraes, eles puderam esclarecer mais a população sobre relação com a polícia. "Esse incentivo é muito bom. Tem que ensinar as crianças sobre esses serviços de discagem para poder denunciar a violência. Como tenho filha mulher, o cuidado é ainda maior", diz.


Fonte: Tribuna do Brasil e Correio Braziliense

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