Grafite, hip hop e basquete. A cultura das ruas marcou presença, ontem, na Praça do Cidadão, em Ceilândia Norte. O evento, organizado pela (CUFA-DF), teve como principal atração a primeira etapa da 2ª Seletiva Estadual de Basquete de Rua (Sebar), que definirá o representante do Distrito Federal na disputa da Liga Brasileira de Basquete de Rua (Libbra).
"O evento visa, principalmente, promover e divulgar a modalidade esportiva, mas também divulgar os elementos que compõem a cultura de rua", explicou Cláudia Maciel, da equipe de produção da Cufa-DF.
Ao som de rap (rhythm and poetry, ritmo e poesia), os jogadores fizeram a arquibancada, montada especialmente para o evento, vibrar com jogadas inusitadas e de pura habilidade. Ao todo, 46 equipes participaram da seletiva. "O basquete de rua tem essa diferença. Aqui o jogador se deixa envolver pela batida da música, é mais criativo. Conta muito a individualidade de cada um", explicou Renato Augusto, enquanto se preparava para entrar na quadra improvisada.
Quatro equipes femininas também participaram da seletiva. "Aqui não tem limite de idade. Joga quem quiser, sem preconceito", conta Cláudia.
A próxima fase da seletiva será realizada no fim de semana quem vem, em São Sebastião. No dia 19, a final, que decidirá a equipe que representará o DF na Libbra, será disputada em Ceilândia.
Além dos jogos, o público pôde presenciar a atuação, ao vivo, de vários mestres do grafite. Os artistas mostram toda sua habilidade com as latinhas de spray nas paredes da praça.
Cada vez mais consagrado como expressão estética, o grafite retrata temáticas urbanas, sempre com muitas cores e grafismos. Freqüentemente, a galera do grafite compõe verdadeiros murais, em grandes dimensões, que incluem figuras da vizinha e personagens típicos da periferia.
Para deixar o clima ainda mais festivo, houve apresentações de break, ioiô e campeonato de enterrada e cestas.
A rapaziada também leva o visual muita a sério. Durante a seletiva, adolescentes vestidos com camisas de times de basquetebol estadounidenses, bermudas até a canela e correntes de prata penduradas ao pescoço desfilaram nos bastidores. "É o nosso estilo, mas cada um se veste do jeito que quiser. Aqui não tem preconceito", explicou o morador de Ceilândia Edilson Santos, 19 anos.
Enquanto uns dançavam break, outros se divertiam fazendo performances com a bola de basquete, sempre tendo como trilha sonora o melhor hip hop, do chamado old school (a velha guarda) às novas gerações. "Até o simples ato de cumprimentar é uma arte. Tem cada cumprimento, que fiquei até com inveja de um simples aperto de mão", comentou um curioso que passava no local.
As meninas do movimento hip hop também eram facilmente identificadas. "Não somos uma tribo, somos um movimento que respeita e dá espaço à participação de todas as tribos", explicou a estudante Mayara Alves, 16 anos.
Um dos mais entusiasmados com o evento era o professor de basquete de rua Jonatas Pereira, 24 anos, ou como é popularmente conhecido, Johnnie Ceilandense. Pereira disputou o torneio de basquete e ainda se apresentou com o seu grupo de hip hop, o PR 15. "Eu cresci nesse meio e aprendi a valorizá-lo. Tenho muito orgulho de ensinar basquete de rua", explica o professor, que sempre morou em Ceilândia.
Pereira conta que desde 1993 participa de oficinas de rap, um dos vértices do hip hop, e, por isso, sempre procurou trabalhar com a cultura de rua. O professor afirmou que as oficinas o salvaram de uma vida dedicada às drogas. "Várias pessoas estão morrendo por causa das mazelas das ruas, mas eu estou aqui, com muita saúde", garante.
Pereira considera importante, agora, a transmissão dos valores da cultura de rua. "Passo isso todos os dias para meus alunos e, se Deus quiser, eles também vão propagar esses valores", diz. Segundo Pereira, a cultura de rua mudou sua forma de pensar e de se comportar e, por isso, agradece ao movimento pela posição que ocupa hoje na sociedade.
O professor acredita que a cultura de rua é aberta a todos os tipos de pessoas e que a amizade prevalece. "Hoje mesmo, fiz várias amizades, até com um angolano. Isso é muito bom", ressalta.
Mayara Alves é uma típica b-girl (como são chamadas as garotas que participam do movimento hip hop) e também quer preservar os valores da cultura de rua. "Quero que meus filhos conheçam e, se quiserem, participem das atividades que a rua oferece", explica.
Mayara nasceu em Ceilândia, mora em Taguatinga, mas explica que não abandonou o movimento. "Sempre compareço aos eventos e meus amigos continuam os mesmos", diz.
A estudante adora a arte do grafite e afirma que o movimento a ajudou a não ter preconceitos. "Aprendi a olhar as pessoas de topos os tipos, sem os preconceitos que a sociedade possui", revela.
Fonte: Jornal de Brasília e Rede Globo
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