quinta-feira, 10 de abril de 2008

Movimento: Ceilândia

Ceilândia já é apontada há algum tempo como um dos celeiros da cultura brasiliense. Isso embora nem todos reconheçam o fato, dentro e fora da cidade. Um dos movimentos que mais muda essa concepção é o hip hop, um dos que mais crescem dentro da cena artística da cidade. A arte de rua feita pelo movimento se divide em quatro ramos básicos: o rap do inglês rythm-and-poetry (ritmo e poesia), a instrumentação dos DJs, o break dance, ou dança de rua, e o grafite. Dentro da cidade existem grupos e expressões fortes em cada uma dessas áreas.

No rap, a cidade se formou como uma das mais prósperas do segmento musical, de acordo com o rapper Japão, há 19 anos fazendo carreira com a música na cidade. "Desde 1989, atuo cantando rap, passando por alguns grupos, levando o rap pelo Brasil, até meu grupo atual, o Viela 17. A aceitação do rap cresceu absurdamente nesse tempo, e já é aceito socialmente como uma expressão de arte. Os motivos são muitos, até mesmo o fato do rap no início dos anos 90 ser muito amador, sem muita qualidade na gravação", explica. "Costumavam cantar Ceilândia como um lugar violento, realidade dura de periferia. E hoje o discurso já mudou, cantamos nossa cidade com amor, pelo seu lado bom. E o que mais facilitou essa expansão do rap foi o mercado independente. A possibilidade de artistas como o X, ex integrante do Câmbio Negro, fazer seu próprio CD sem problemas, facilita muito. Eu mesmo contei com a participação do Alexandre, do Natiruts, entre outros convidados, sem precisar de uma grande gravadora, que seria indispensável em outra época", conclui o rapper, cuja música foi selecionada recentemente para integra a trilha de um programa de TV.

Já no grafite, o grupo liderado por Francisco Cebola, Walter Turko, Panela e Kogu, o R.U.A. - Reunião Urbana de Artistas - está há um ano reunido oficialmente no espaço da QNM 03 da Ceilândia Sul. O grupo se expande aos poucos com divulgação boca-a-boca entre os jovens da cidade. O intuito dos integrantes é compartilhar seus conhecimentos, experiências e convívio dentro do meio da arte de rua, ajudando aos que querem uma alternativa dentro da arte na comunidade. "Os apelidos vêm da raiz da grafite. Nos reconhecemos por meio desses apelidos", explica Cebola. "Organizamos esse espaço através das amizades criadas no meio do grafite, que é o fator comum aqui. Eu já organizava oficinas em igrejas, ONGs, qualquer lugar que oferecesse a oportunidade. E conversando com o pessoal do meio, formamos o projeto do R.U.A., isso já há dois anos. Depois de um ano, chegamos a esse espaço."

No break dance, a cidade vai se fortalecendo aos poucos, com a cultura dos b-boys e b-girls, os dançarinos de rua, como explica Keyla Muniz, que dá aula da dança há 4 anos no centro da cidade. "É muito procurado pelos jovens na faixa de 12 a 19 anos, mas ainda não conheço muita difusão da prática da dança forte dentro de Ceilândia, vejo o pessoal dançado de vez em quando na rua, mas é causal. Mas vejo evoluir a cada mês o conceito da dança de rua aqui", declara a professora. Entre os DJs, o mais famoso da cidade já tem reconhecimento nacional, é o DJ Jamaika, que já tem 33 anos de carreira e só recentemente aderiu a uma grande gravadora.
O movimento se expande na cidade, cada vez mais, e em todos seus segmentos. A cultura urbana já é parte da história de Ceilândia, e o reconhecimento nacional dos artistas envolvidos demonstra isso. E o morador percebe isso também.

O movimento hip hop é um dos segmentos de cultura urbana que mais cresce. É apontado como uma das poucas expressões de arte contemporânea realmente originais por segmentos das artes plásticas. No Brasil, o movimento hip-hop foi adotado, sobretudo, pelos jovens negros e pobres de cidades grandes, como Rio de Janeiro, Porto Alegre e São Paulo, como forma de discussão e protesto contra o preconceito racial, a miséria e a exclusão. Como movimento cultural, o hip-hop tem servido de ferramenta para integração social e mesmo de ressocialização de jovens das periferias no sentido de romper essa realidade


Fonte: Tribuna do Brasil

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