domingo, 6 de abril de 2008

Grafiteiros

O grafite é um dos ramos das artes de rua que mais se espalha no país, e em Ceilândia, um pequeno grupo faz essa arte se propagar e crescer. Liderado por Francisco Cebola, Walter Turko, Panela e Kogu, o R.U.A. - Reunião Urbana de Artistas - está há um ano reunido oficialmente no espaço da QNM 03 da Ceilândia Sul. O grupo se expande aos poucos com divulgação boca-a-boca entre os jovens da cidade. O intuito dos integrantes é compartilhar seus conhecimentos, experiências e convívio dentro do meio da arte de rua, ajudando aos que querem uma alternativa dentro da arte na comunidade.

Os apelidos acabam funcionando como pseudônimos entre os artistas, criando suas identidades no meio. "Os apelidos vêm da raiz da grafite. Nos reconhecemos por meio desses apelidos", explica Cebola. "Organizamos esse espaço através das amizades criadas no meio do grafite, que é o fator comum aqui. Eu já organizava oficinas em igrejas, ONGs, qualquer lugar que oferecesse a oportunidade. E conversando com o pessoal do meio, formamos o projeto do R.U.A., isso já há dois anos. Depois de um ano, chegamos a esse espaço.", completa o artista plástico.

Por meio do projeto, os grafiteiros conseguem alguns avanços dentro da comunidade, principalmente entre os jovens que fazem pichação. "Nós não entramos em conflito com quem picha. Mostramos o caminho do grafite, nossa arte, e oferecemos nossos conhecimentos. Deixamos que cada um escolha seu caminho.", conclui Francisco, falando sobre a estrutura do grupo. "Nós nos mantemos independentes, financiamos o projeto com recursos próprios. Nosso objetivo é não depender de ninguém, manter nosso espaço por nossos próprios meios. Ajudas governamentais acabam se tornando muletas, e não é esse nosso foco. Projetos em conjunto sim, mas dependência não."

O espaço tenta atender o maior número de jovens possível, e não há faixa etária para quem freqüenta o local. "De garotos de nove a 29 anos, vêm pessoas de todas as idades. O talento não depende da idade, então recebemos todos como iguais. Só o número de mulheres que continua nulo aqui. Talvez por preconceito das próprias meninas de Brasília. Em São Paulo já existe um equilíbrio maior entre artistas de gêneros diferentes", afirma Walter Turko, um dos dirigentes do projeto. Segundo Truko, a maior limitação ainda é a estrutura pequena do lugar. "Não comportamos muita gente por conta de material, mas planejamos crescer. Montar uma serigrafia, telecentros e trabalhos com arte digital. Planos para o futuro".

O grupo também realiza sempre alguns eventos em parceria com outros projetos da cidade. "Temos o Coco Molotov, um evento de exibição de filmes e documentários para o pessoal, propagando outras formas de arte. E também uma feira de fanzines, outra arte alternativa. Porém ambos são sem uma periodicidade definida. E, claro, eventos comerciais também, contratados para fazer nossos trabalhos. São entre 20 e 25 artistas conosco que trabalham com freqüência nesses eventos. Mas o número de pessoas que circulam dentro do projeto, é muito superior", fala Cebola.

Os movimentos da arte de rua estão entre os que mais atraem a juventude nos últimos dez anos, descreve a artista plástica e professora da UnB, Isabela Lara. "O crescimento de movimentos ligados ao hip-hop, break dance, basquete de rua. Mas um dos maiores atrativos para o jovem do Distrito Federal é o grafite, a arte plástica que nasceu a partir dos protestos pintados nos muros de Nova Iorque e Paris, na época da revolução da contracultura, entre as décadas de 60 e 70. É uma arte nova, ainda não tão reconhecida dentro do Brasil, e confundida com a pichação, mas que já é muito respeitada lá fora", declara a professora.


Fonte: Tribuna do Brasil

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