Revólver na cintura, um tubo de spray na mão e disposição para matar. Esses são elementos indispensáveis para quem faz parte das gangues de pichadores de Ceilândia. Rabiscar um muro ainda virgem, com letras muitas vezes indecifráveis, é a forma que eles – a maioria adolescentes – encontram para se mostrar para a sociedade. Pertencer a uma facção de grafiteiros na maior cidade do DF representa poder, força e status.
Porém, basta dar uma olhada nos números para se constatar que integrar um grupo desses não vale a pena. Nos últimos dois anos, o serviço de inteligência do 8º Batalhão da Polícia Militar (Ceilândia) mapeou 22 gangues na cidade. Mas o Jornal de Brasília descobriu outras três, que aumenta para 25 este número. De 2006 para cá, dez jovens perderam a vida em confrontos e emboscadas orquestradas por inimigos (veja quadro). A lista, no entanto, pode ser bem maior, uma vez que muitos pais de adolescentes assassinados não admitem que os filhos estavam no mundo do crime.
O Jornal de Brasília mergulhou no universo dos pichadores de Ceilândia. A reportagem conversou, durante a semana passada, com integrantes de sete gangues aliadas. As histórias contadas por eles mais parecem tiradas de uma ficção, mas são a pura realidade. Ceilândia, hoje, se tornou um campo minado. Um mapeamento do 8º BPM mostra que, na parte Norte, concentra-se oito grupos: Legião Unida Pela Arte (LUA), Amantes da Arte Proibida (AAP), ENF (Sigla não identificada pela polícia), Anjos Grafiteiros (AG), Grafiteiros Sangüinários Noturnos (GSN), KGM (sigla não identificada), Grafiteiros da Arte Proibida (GAP) e Grafiteiros Sem Lei (GSL).
A GSL é o mais numeroso e também o mais antigo na cidade, com cerca de 15 anos de atuação. Segundo a polícia, são 150 pessoas. Todas são aliadas e, juntas, somam mais de 300 membros. Na parte Sul, estão os rivais. São 15 gangues. A Grafiteiros do Distrito Federal (GDF) comanda boa parte da região.
Apesar de não terem uma ideologia, eles são organizados. Fazem reuniões, discutem as ações e decidem até sobre a vida dos colegas que andam com gente das tribos rivais. "Se o cara nosso começar a andar com os cabritos (inimigos), nós batemos. Dependendo da traição, ele até morre", disse Keloy, um dos mais antigos da facção.
Os conflitos entre as facções inimigas ocorrem principalmente em eventos públicos, realizados na cidade. Porém, o principal ponto de encontro é longe dali, na Esplanada dos Ministérios. "Quando tem show na Esplanada, nós já partimos sabendo que vamos encontrar os inimigos lá. Por isso, só vamos de 'cabeçada' (em grande número). Vale tudo: cadeiradas, estocadas e pedradas. Só não levamos arma porque a polícia toma”, disse Vírus, da GDF.
Sluk, também da GDF, carrega as marcas do último conflito. "Estava pichando no centro de Ceilândia. Quatro caras da GSL desceram de um Chevette e me espancaram. Quebrei um dente", contou.
Fonte: ClicaBrasília e Jornal de Brasília de 06/07/08
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