quinta-feira, 24 de julho de 2008

Opinião: viadutos por todo lado?

Paulo Maluf foi um dos governantes que, com sua obsessão por obras viárias grandiosas e exageradamente caras, mais contribuíram para que São Paulo se transformasse em uma das cidades mais feias do planeta. O símbolo do estilo Maluf de deformar cidades é o viaduto Costa e Silva, mais conhecido como Minhocão.

Pois de uns tempos para cá - mais especificamente a partir de Joaquim Roriz - parece que os governantes do DF tornaram-se todos fiéis discípulos de Maluf (não se está falando aqui de superfaturamento, desvio de verbas etc. Este tema renderia muitos outros artigos).

Um dos primeiros sintomas da paulistanização de Brasília foi a construção do viaduto Ayrton Senna, no Cruzeiro. A obra é um monstrengo cuja feiúra parecia insuperável, o que logo se provou possível com a construção de um outro em frente à rodoferroviária. Vieram a seguir mais alguns no mesmo estilo, como o do final do Pistão Sul de Taguatinga e aquele que dá acesso ao Recanto das Emas.

Existe o projeto de se construir mais um, desta vez próximo ao estádio Serejão. Trata-se de obra necessária, dado o volume de tráfego no cruzamento das vias que ligam Ceilândia, Taguatinga e Samambia. Mas basta dar uma olhada na imagem acima para se ter uma idéia do impacto visual que a obra terá na paisagem ao redor.

Quem passa hoje por aquelas vias descortina um horizonte amplo, interrompido ao longe pelos edifícios de Taguatinga e de Samambaia, intercalados pela vegetação que sobrou entre estas duas cidades. Uma paisagem agradável que será alterada radicalmente caso seja de fato construído um viaduto à la Roriz/Maluf naquela via. Em vez de vegetação e prédios ao longe, os motoristas que vêm das QNL, por exemplo, vão se deparar com um paredão de concreto surgido repentinamente do nada.

Para alguns isto pode parecer algo de menor importância. Mas a paisagem urbana interfere significativamente no estado psicológico das pessoas. Cidades caóticas, barulhentas ou visualmente desagradáveis tendem a abrigar moradores neuróticos, depressivos ou estressados. Quem vive no DF tem o raro privilégio de ainda poder desfrutar de amplos espaços, horizontes quase infinitos. Há que se tentar preservar esta dádiva.

Vias elevadas podem até ser úteis para prestar homenagens demagógicas, agradar a empreiteiros doadores de campanha ou afixar placas com o nome do governante de turno. Mas poluem visualmente a cidade. No caso em questão, como o terreno é todo em declive, os engenheiros nem podem usar a desculpa de que o formato escolhido visa a facilitar o escoamento da água das chuvas.

Para técnicos que não sabem ou se esqueceram de que é possível projetar encontros de vias movimentadas sem destruir a paisagem em volta, sugere-se uma visita aos viadutos do final do Eixão Sul ou àqueles ao lado da Octogonal. Com suas ramificações construídas no mesmo nível do solo, e abaixo dele, são bons modelos de um tempo em que este tipo de obra era usado apenas para resolver problemas de tráfego.


Fonte: Ceilândia.com

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