Um buraco de cerca de 15m de profundidade que aumenta a cada chuva virou motivo de apreensão para os moradores do Condomínio Privê, próximo a Ceilândia. A gigantesca fenda está a apenas 30m da Rua 16 e o temor é que as casas da ponta sejam engolidas pela erosão. “Estamos correndo perigo aqui e ninguém toma providências”, reclama Romero Machado de Almeida, 33 anos, vendedor de frutas, que mora no condomínio.
A enorme cicatriz na terra avança por conta dos problemas na rede de captação de águas pluviais no Setor O de Ceilândia. O Condomínio Privê está do lado direito da BR-070 de quem deixa o Distrito Federal. A área tem relevo mais baixo e, por isso, é para lá que correm as águas da chuva. “Quando chove, as paredes desabam, o buraco cresce”, descreve Gilmar Bezerra, também morador do Privê.
Para tentar conter a violência da água, os moradores improvisaram uma mureta de barro no fim da rua. O obstáculo serve apenas de paliativo. Enquanto uma solução definitiva não vem, a gigantesca erosão é usada como cenário de brincadeiras por crianças da região. “Tem uma caverna aqui embaixo”, conta Marcos Vinícius, 12 anos, ignorando o perigo que corre risco de ser soterrado pelas paredes da erosão.
O buraco do Condomínio Privê é um retrato dos problemas ambientais provocados pela falta de captação das águas pluviais. Mas não é o único. Também do lado direito da BR-070, outra erosão vem se formando por causa das águas que escorrem sem obstáculos a partir do Setor O de Ceilândia. O buraco tem cerca de 2m de profundidade e alcança pelo menos 100 metros quadrados de área. Dentro dele, o lixo se acumula. A erosão fica ao lado de uma das estações de geração da Companhia Energética de Brasília (CEB).
“Isso virou um inferno. A água do córrego está imunda”, reclama o chacareiro Inácio Pereira Ribeiro, de 79 anos, que mora a alguns quilômetros da erosão da BR-070. Ele teme pela conservação do Córrego das Pedras, que passa dentro da chácara dele, no Incra 7. “Já achei até cachorro morto no leito. É uma tristeza, o córrego pode morrer”, avisa o chacareiro.
O governo identificou pelo menos outras três áreas em que a falta de captação de águas pluviais já provocou danos ambientais sérios. Além da erosão do Privê, estão na lista voçorocas próximo da QNP 28(condomínio Sol Nascente), de Ceilândia, e na área JK, de Samambaia, e uma erosão próxima à DF-290, vizinha ao Gama. A voçoroca da QNP 28 é uma das maiores do DF e seus braços possuem mais de 100m de comprimento. “Trabalharemos para recuperar essas áreas e também para evitar que os problemas de captação provoquem situações assim em outras partes do DF”, promete o secretário de obras, Márcio Machado.
Ele reconhece que há muito a ser feito. O DF tem 40 mil quilômetros de asfalto — apenas 15% deles contam com rede de captação para as águas da chuva. As cidades e expansões criadas pelo governo nos últimos 20 anos não contam com redes de captação de água porque a construção de uma rede de escoamento encarece em até 40% o custo de pavimentação de uma rua.
Os problemas são agravados por causa do crescimento desordenado das cidades. Ao ocupar o território de forma ilegal, os moradores de condomínios irregulares e invasões colocaram concreto e cimento onde antes havia vegetação natural. Sem ter como infiltrar no solo e recarregar o lençol freático, a água escorre pela superfície à procura dos pontos mais baixos do relevo. Pelo caminho, arrasta o que encontra.
A água que não infiltra no solo também pode provocar o assoreamento dos córregos, rios e lagos. “A ocupação do solo precisa ser planejada, a falta de um sistema de captação adequado causa problemas”, alerta o professor Newton de Souza, do Departamento de Engenharia Civil e Ambiental da Universidade de Brasília (UnB).
As soluções devem chegar apenas depois da próxima seca. O plano de recuperação das áreas degradadas e a ampliação das redes de captação terá de esperar empréstimo internacional. O governo calcula que precisa de R$ 225 milhões para corrigir os problemas mais urgentes da rede de captação de águas pluviais. “Vamos licitar essas obras em janeiro. Portanto, nas próximas chuvas a população sentirá a diferença”, garante Márcio Machado. Para os moradores do Condomínio Privê, o medo continuará a ser o companheiro de cada temporal.
Fonte: Correio Braziliense
A enorme cicatriz na terra avança por conta dos problemas na rede de captação de águas pluviais no Setor O de Ceilândia. O Condomínio Privê está do lado direito da BR-070 de quem deixa o Distrito Federal. A área tem relevo mais baixo e, por isso, é para lá que correm as águas da chuva. “Quando chove, as paredes desabam, o buraco cresce”, descreve Gilmar Bezerra, também morador do Privê.
Para tentar conter a violência da água, os moradores improvisaram uma mureta de barro no fim da rua. O obstáculo serve apenas de paliativo. Enquanto uma solução definitiva não vem, a gigantesca erosão é usada como cenário de brincadeiras por crianças da região. “Tem uma caverna aqui embaixo”, conta Marcos Vinícius, 12 anos, ignorando o perigo que corre risco de ser soterrado pelas paredes da erosão.
O buraco do Condomínio Privê é um retrato dos problemas ambientais provocados pela falta de captação das águas pluviais. Mas não é o único. Também do lado direito da BR-070, outra erosão vem se formando por causa das águas que escorrem sem obstáculos a partir do Setor O de Ceilândia. O buraco tem cerca de 2m de profundidade e alcança pelo menos 100 metros quadrados de área. Dentro dele, o lixo se acumula. A erosão fica ao lado de uma das estações de geração da Companhia Energética de Brasília (CEB).
“Isso virou um inferno. A água do córrego está imunda”, reclama o chacareiro Inácio Pereira Ribeiro, de 79 anos, que mora a alguns quilômetros da erosão da BR-070. Ele teme pela conservação do Córrego das Pedras, que passa dentro da chácara dele, no Incra 7. “Já achei até cachorro morto no leito. É uma tristeza, o córrego pode morrer”, avisa o chacareiro.
O governo identificou pelo menos outras três áreas em que a falta de captação de águas pluviais já provocou danos ambientais sérios. Além da erosão do Privê, estão na lista voçorocas próximo da QNP 28(condomínio Sol Nascente), de Ceilândia, e na área JK, de Samambaia, e uma erosão próxima à DF-290, vizinha ao Gama. A voçoroca da QNP 28 é uma das maiores do DF e seus braços possuem mais de 100m de comprimento. “Trabalharemos para recuperar essas áreas e também para evitar que os problemas de captação provoquem situações assim em outras partes do DF”, promete o secretário de obras, Márcio Machado.
Ele reconhece que há muito a ser feito. O DF tem 40 mil quilômetros de asfalto — apenas 15% deles contam com rede de captação para as águas da chuva. As cidades e expansões criadas pelo governo nos últimos 20 anos não contam com redes de captação de água porque a construção de uma rede de escoamento encarece em até 40% o custo de pavimentação de uma rua.
Os problemas são agravados por causa do crescimento desordenado das cidades. Ao ocupar o território de forma ilegal, os moradores de condomínios irregulares e invasões colocaram concreto e cimento onde antes havia vegetação natural. Sem ter como infiltrar no solo e recarregar o lençol freático, a água escorre pela superfície à procura dos pontos mais baixos do relevo. Pelo caminho, arrasta o que encontra.
A água que não infiltra no solo também pode provocar o assoreamento dos córregos, rios e lagos. “A ocupação do solo precisa ser planejada, a falta de um sistema de captação adequado causa problemas”, alerta o professor Newton de Souza, do Departamento de Engenharia Civil e Ambiental da Universidade de Brasília (UnB).
As soluções devem chegar apenas depois da próxima seca. O plano de recuperação das áreas degradadas e a ampliação das redes de captação terá de esperar empréstimo internacional. O governo calcula que precisa de R$ 225 milhões para corrigir os problemas mais urgentes da rede de captação de águas pluviais. “Vamos licitar essas obras em janeiro. Portanto, nas próximas chuvas a população sentirá a diferença”, garante Márcio Machado. Para os moradores do Condomínio Privê, o medo continuará a ser o companheiro de cada temporal.
Fonte: Correio Braziliense
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