sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Jovem foi atropelado e está em coma

Há quase um mês, um campeão brasiliense na arte da jardinagem não pode cuidar das plantas de que tanto gosta. O estudante Jonathan de Souza Silva, 19 anos, está internado em coma na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Santa Lúcia, na Asa Sul, vítima de um atropelamento. O rapaz se preparava para representar a cidade em uma competição mundial de jardinagem no Canadá, no próximo ano. O sonho foi interrompido na noite do último 7, quando uma Saveiro o atropelou em Taguatinga. Ele atravessava uma faixa de pedestres na saída da auto-escola onde estudava. Dois carros pararam para que ele passasse, mas a Saveiro cortou a terceira faixa da pista e o atingiu. Jonathan sofreu traumatismo craniano, perfuração nos pulmões e a perda do baço.

Jonathan conquistou a medalha de ouro em jardinagem na Olimpíada do Conhecimento, realizada em agosto, em Curitiba, pelo Serviço Nacional de Aprendizagem da Indústria. Ele treinava diariamente no Senai, onde montava os jardins, peças de marcenaria e a rede hidráulica de irrigação. O rapaz aprendeu a técnica ao longo deste ano e começava a receber propostas de emprego. Depois do acidente, respira e se alimenta com a ajuda de aparelhos.

No dia da colisão, ele foi levado ao Hospital Regional da Ceilândia e, depois, encaminhado ao Hospital de Base. No HBDF, teve o pedido de entrada na UTI negado por falta de vagas e passou um dia em um quarto da enfermaria, à espera de atendimento, segundo seus familiares. Os pais da vítima recorreram ao Ministério Público e conseguiram uma intimação para que o hospital liberasse a vaga. “Disseram que ele só tinha 5% de chance de vida, que não podiam fazer nada. Só às 23h ele foi removido para a UTI, aí sim foi fazer os exames”, disse a mãe do rapaz, a costureira Dinalva de Souza Silva, 40 anos.




Dinalva e o aposentado Francisco José da Silva, 40 anos, pai de Jonathan, que moram em Ceilândia, renovam as esperanças sempre que o rapaz dá sinais de superação. Ele já mantém os olhos abertos e faz movimentos suaves com as mãos. “Um dia eu segurei a mão dele e perguntei se estava me ouvindo, aí ele mexeu o dedo. Não temos nenhuma previsão de melhora, mas ele é muito batalhador”, afirmou Francisco.

Os pais de Jonathan podem visitá-lo uma vez ao dia, durante 15 minutos. “Esses 15 minutos são uma eternidade para mim. Os médicos dizem que temos que esperar, mas tenho fé que meu filho será restaurado”, afirmou Dinalva. A família ainda não sabe se o rapaz sofrerá seqüelas nem se poderá voltar a trabalhar com jardinagem. O Hospital Santa Lúcia não divulgou, na noite de ontem, o boletim médico do paciente para a imprensa.

No período de visita, Dinalva canta para o filho as músicas que ele gostava de interpretar na igreja. Jonathan costumava traduzir as canções religiosas para surdos e mudos. Ele aprendeu a se comunicar em libras (sinais feitos com as mãos) por conta própria e se dedicava a traduzir mensagens religiosas aos deficientes que conhecia. Ele se apresentava em cidades próximas com o Grupo Quebrando o Silêncio, que promove a comunicação com os surdos e mudos.




O motorista do carro que provocou o acidente não teria parado para prestar socorro, mas encontrado por testemunhas em seguida. Na ocorrência policial registrada na 17ª Delegacia de Polícia (Taguatinga Norte), o técnico judiciário José Silva Leão, 55 anos, é apontado pelas testemunhas como culpado pelo acidente. Ele é acusado de lesão corporal culposa (sem intenção de matar).

A família do rapaz sonha que ele retome os treinos de jardinagem no Senai para realizar o sonho de conquistar o título mundial e ingressar na faculdade de arquitetura e urbanismo. Ele também precisa concluir o curso teórico da auto-escola Paz no Trânsito, em Taguatinga, onde ocorreu o acidente, para receber a carteira de habilitação.

Jonathan estava recebendo os primeiros convites para trabalhar e queria juntar dinheiro para comprar um carro. “Meu sonho é ver meu filho aqui em casa, abraçá-lo. Não sabemos o que vai acontecer, mas, no meu coração, a expectativa é de que ele venha para casa”, comentou Dinalva.




Fonte: Correio Braziliense e Jornal de Brasília de 05/12/08

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