segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Teatro modelo

Em frente ao P Norte, o Teatro Sesc Newton Rossi é mesmo de deixar artistas de queixo caído. Com apenas um ano de funcionamento, já promove um deslocamento na linha de força que determina o Plano Piloto como absoluto centro cultural do DF. A ótima montagem O Homem Inesperado, por exemplo, com Paulo Goulart e Nicette Bruno, só passou lá.

O objetivo é a descentralização. Estamos agora construindo o teatro no Gama com 300 lugares, no padrão de alto nível tecnológico e arquitetônico, conta Rogero Torquato, coordenador artístico.

Atendemos hoje público de Ceilândia, Taguatinga, Brazlândia, Águas Lindas, Goiânia. No show de Vander Lee, veio uma caravana de Palmas (TO). Do Plano Piloto, começam a surgir grupos que alugam vans, revela o gerente Edson Gil.

O Teatro Sesc Newton Rossi está encravado num complexo educacional e esportivo de 50 mil metros quadrados. Fica em frente a bares e oficinas, que antes estavam em área desprezada. Houve um impacto de valorização imobiliária na construção do local. Com um estacionamento amplo, o espectador entra num foyer com três telas de plasma, café e espaço para exposição. Até a última sexta-feira, havia fotos da mostra Cine periferia criativa, projeto em parceria da Central Única das Favelas (Cufa/DF) e Sesc. Ali, também, escritores da região lançam livros.

Estamos trazendo a comunidade e sua cultural para dentro do teatro que, em termos de arquitetura de caixa cênica e tecnologia, é único no DF , observa Torquato.

A tecnologia é de ponta. Estou operando um airbus, conta o operador de som André Garcez.

As ações do SESC Ceilândia visam ao acesso da população. Os shows de João Bosco, Leila Pinheiro e Vander Lee, por exemplo, custaram R$ 2 a inteira. O espetáculo mais caro foi o do casal Paulo Goulart e Nicette Bruno, a R$ 10 (inteira). Na semana de exibição, carros de som passeiam pelas ruas da cidade divulgando a atração. De terça e domingo, há exibição de filmes em DVD na sala de projeção, com capacidade de 140 pessoas. A entrada é franca.

Temos tido uma boa média de público. Estamos falando de uma cidade sem cinema, destaca o técnico de iluminação e ator Miltinho.

O Teatro SESC Newton Rossi veio ocupar uma falta inexplicável de equipamento cultural numa cidade de mais de 350 mil habitantes. Modificou não só o acesso da população a apresentações de primeira qualidade, como também alterou a economia do espetáculo. Técnicos como Miltinho, que mora em Taguatinga, foram incorporados ao quadro de funcionários. Companhias e artistas que antes não tinham como se apresentar por lá agora incluem a Ceilândia nos projetos de captação. O diário do maldito, que teve projeto aprovado pelo Fundo de Apoio à Cultura (FAC), passou pelo palco na semana passada. Isso sem falar na contratação temporária que gira em torno da execução da montagem (transporte de cenário, produtores e assistentes).

É uma felicidade ter, numa periferia que precisa de tantas ações culturais, um teatro de última geração, com condições estruturais excelentes e a equipe técnica qualificada. Isso propõe um dinamismo para a circulação das companhias, que agora podem emendar uma temporada no Plano Piloto com Ceilândia, pontua o diretor Francis Wilker, do Teatro do Concreto.

A idéia é trazer para cá as atrações do Palco Giratório (maior festival de circulação do país) e do Festclown (encontro de palhaços), planeja Torquato.



Outro projeto de formação chama-se Teatro pelo Avesso. A meninada chega no foyer e encontra Miltinho, que faz um tour pelo equipamento cultural. Explica a importância de cada parte da maquinaria (a vara de luz, o ciclorama, os refletores), caminha pela coxia e camarins e, depois, fala da cultura de se assistir a um espetáculo. É importante trabalho de formação de platéia.

Estamos em constante manutenção preventiva. O público que freqüenta o Sesc Ceilândia é impressionante. Em um ano de atividade, nunca encontramos um chiclete mascado ou uma poltrona danificada, elogia Edson Gil.



Por dentro da Caixa Cênica:


* Foyer – As telas de plasma podem transmitir simultaneamente o que acontece no teatro ou na sala de vídeo. Podem também funcionar independentemente. Amplo, tem café, espaço de exposição, bebedouros (adultos e infantis) e ótimos banheiros.

* Sala de Vídeo – Tem 140 lugares e transmite às terças curtas e longas brasileiros. Alguns projetos, como o de filmes brasilienses, seguem com bate-papo.

* Sala Principal – Tem 430 lugares e pé-direito de 18 metros. A primeira fila é adaptada para cadeirantes. A platéia tem um ângulo de visão impressionante do palco, com boca de cena que se projeta.

* Coxia – Todas as varas são elétricas e movimentadas tanto da coxia quanto das cabines de som e luz. Podem ser trocados simultaneamente vários panos. São 100 refletores. Interliga-se a ponto de descarga de cenário, cujo caminhão descarrega diretamente na coxia. Há passagem de fosso, onde se pretende construir quatro saídas para acesso do subterrâneo ao palco.

* Camarins – Dois individuais e dois coletivos, todos com banheiros.

* Cabine de Som e Luz – Tem mesas de última geração, com 56 canais (som) e 96 (luz). Tudo é computadorizado. O mapa de luz dos espetáculos é gravado no computador e operado em alguns botões. Dali, também se controla as projeções de vídeo.




O teatro SESC Newton Rossi fica na QNN 27, lote B, em Ceilândia Norte. Próximo a área do Ceilambódromo e da escola Fundação Bradesco.


Fonte: Correio Braziliense de 30/11/08

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