sexta-feira, 4 de julho de 2008

Mudança de comportamento

O que antes era tolerado passou a ser caso de delegacia. Hoje, quem for pego dirigindo alcoolizado poder até ser enquadrado criminalmente, de acordo com os novos padrões da previstos na 'lei seca'. O gerente de Fiscalização do Detran/DF, Silvain Fonseca, pondera e afirma que existe um bom senso por parte dos agentes na hora da abordagem e que a história de "dois chopps" é relativa.
"A quantidade de bebida ingerida, para ser pego no bafômetro, vai depender do metabolismo de cada um, da massa corpórea", explica.

Segundo ele, a lei não faz distinção sobre cada caso. Ele alerta que uma pessoa que bebe pouco e dirige será punida da mesma forma àquela que bebeu muito e pegou a direção. "Quem bebe não pode dirigir. Quem bebe pouco oferece o mesmo risco. Os dois matam e vão pagar o mesmo valor", afirma.

A multa para quem for pego é de R$ 957, além da pena de suspensão da carteira por 12 meses. Fonseca conta que desde o dia em que entrou em vigor a nova lei, as pessoas que foram pegas apresentavam nível superior ao permitido em relação à antiga tolerância. "De 67 condutores, 20% foram encaminhados à delegacia. Lá, eles são apresentados à autoridade que julgará o caso", relata. O trabalho do Detran, segundo o gerente de Fiscalização, está sendo feito de maneira imparcial. "Estamos filmando nossas ações. Queremos mostrar um trabalho com transparência. A nossa providência é a proteção à vida", afirma.

O diretor-geral do Detran/DF, coronel Jair Tedeschi, garante que paralelamente à fiscalização, a conscientização está sendo feita e que todos os profissionais trabalham com prudência. "O nosso agente tem bom senso suficiente para saber se a pessoa bebeu o necessário para influenciar na direção. E não será bombom de licor e enxagüante bucal. Essa história é balela", alivia. Sobre as penalidades, o coronel relata que são previstas mudanças. Uma delas é que, a partir de agora, os motoristas com mais pontos na carteira que forem enquadrados pela nova lei serão punidos com mais tempo de suspensão da habilitação. A carteira poderá ficar suspensa até um ano e, em caso de reincidências, pode haver até a cassação.

A servidora pública Andréia*, 26 anos, acredita que a lei está em um momento de exageros e Brasília vestiu literalmente a camisa. "Eu li que no resto do país não está assim. Parece que no DF estão querendo arrecadar mais dinheiro", arrisca. Segundo ela, a medida está em fase de adequação, assim como todas as leis que envolvem comportamentos. "Existe a necessidade de maturação. É um processo lento, mas natural. Até lá, muitas pessoas serão injustiçadas", disse.




"Se estão achando muito, vão ver ainda mais. A idéia é aumentar, estender o leque", retrucou Tedeschi. Segundo ele, a lei existe para ser cumprida e se Brasília está sendo referência no assunto, "isso é excelente".

A lei pode ser questionada pelos meios jurídicos. As blitze, explica Jair, são feitas aleatoriamente junto com a Policia Militar em parceria com a Companhia de Bebidas das Américas (Ambev) e o Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de Brasília (Sindhobar) em pontos diversos do DF. "O Sindhobar tem sido um 'senhor' parceiro, assim como a Ambev e as campanhas pela paz no trânsito", elogia o coronel.

De acordo com dados do Detran, de abril para maio as mortes no trânsito foram reduzidas de 56 para 38. "Estamos reduzindo o número de acidentes. No mês de junho foi um pouquinho menor", sustenta. Jair não agrega todo acidente de trânsito com vítima ao motorista embriagado. "A bebida é um dos fatores que, anulado, mostra essa redução. Não é o único, mas é um fator influente. Estamos reduzindo um", explica.

O comércio também tem sentido fortes conseqüências da nova medida. Lojistas têm reclamado da redução da venda e do movimento nos bares e danceterias. De acordo com o Sindhobar, desde a criação da lei, o faturamento nos bares e restaurantes caiu pela metade, em média.

Para driblar essa queda, alguns empresários até criaram serviços de motoristas para os clientes que consumirem álcool. De olho na saída das bebidas dos bares, alguns eventos oferecem carros alugados com motorista para levar o cliente em casa. A festa Space of Sound Tour, que acontece no próximo sábado no Centro de Convenções, por exemplo, proporciona três opções para o público: uma van, com horário marcado, gratuita; um carro com motorista com o horário flexível que custa R$ 30; e até mesmo uma limousine exclusiva para o cliente que gosta mais de luxo, que custará R$ 100 pelo passeio.

Ontem, oficialmente, o Sindhobar descartou a possibilidade de arcar com os gastos de transportes de clientes. O presidente da entidade, Clayton Machado, defende que o maior responsável pelos gastos é o governo, que teria que cobrir essa despesa. "O empresário não deve chamar para si a responsabilidade", orientou. Machado afirmou que, apesar dessa posição, não poderá impedir ninguém de criarem diferenciais atraentes.



Andréa, que tem 36 anos, conta que já tem mais de 20 pontos na carteira por causa de excesso de velocidade e avanço de semáforos. A servidora pública diz que só soube que tinha esses pontos na carteira porque entrou no site. "Não fui comunicada oficialmente e quando me param na blitz não verificaram isso. Eles olham IPVA, estado do carro, equipamentos de segurança...". Ela diz que foi informada pelo próprio Detran que essas blitze nas ruas dificilmente verificariam os pontos na carteira de habilitação e que até agosto (data de vencimento da carteira) ela não teria problemas. "Vou esperar até agosto para renovar a carteira. Ai eles vão olhar os pontos", acredita.
"Nós temos hoje mais de 30 mil motoristas com mais de 20 pontos na carteira. Infelizmente não temos a capacidade de atender aos 30 mil", afirma o diretor-geral do Detran. Segundo ele, esses condutores estão sendo chamados e notificados para que o trabalho de regularização seja feito o mais rápido possível.
* O nome foi alterado para preservar a identidade da fonte


Fonte: Tribuna do Brasil

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