quarta-feira, 4 de junho de 2008

A violência é aqui?

No dia 14 de maio a Secretaria de Segurança do DF apresentou o balanço da violência no Distrito Federal nos primeiros meses do ano, comparando aos do ano passado.

Mais uma vez os dados vêm contra nossas ações diárias em busca de melhorias nas comunidades. Estes dados mostram que devemos a cada dia rever nossas metodologias e que algo está errado, estamos andando de mãos separadas.

Os índices mostraram queda em alguns pontos e elevação em outros, mas o que choca, ou nem sei se choca mais, é a forma como cresce o índice de homicídios entre homens jovens por arma de fogo, já mostrado pelo Mapa da Violência e dentre outras várias pesquisas. Ceilândia mais uma vez dispara nesse quesito. Uma cidade com 520 mil habitantes, que é comparada com Paranoá, Plano, Guará e Riacho Fundo. É contraditório comparar uma cidade populosa, onde o desenvolvimento demorou 30 anos para chegar, onde anos a única coisa que tínhamos eram botecos e esquinas, com cidades, com populações menores, mas com índices parecidos. Comparam esta cidade, ainda sem cinema, apesar de um edital liberando área para construção, e teatro, onde a mesma população segue sem perspectiva, se organizam em gangues, estão fora da escola, cheios de rupinol.

O que não aparece nesses dados são os índices de morte no trânsito, causado pela nossa elite desvairada e cheia de álcool. Onde está tal índice? Isso não é considerado violência? Ou nem aparecem nos dados policiais, pois os advogados chegam primeiro e abafam os casos?

O Secretário de Segurança Pública do DF, coronel Cândido Vargas, e o Comandante de Polícia Militar, coronel Cerqueira, nos quais tenho maior respeito, anunciam que a solução é mais polícia nas ruas. Ora comandante! Ora secretário! Sabemos bem que esta política não se adapta mais ao século XXI. Temos muita polícia e os índices não baixam. Precisamos de espaço de diálogo direto com a polícia, uma polícia realmente comunitária e preventiva. Sem uma política inter e multidisciplinar, sem uma gestão compartilhada e integrada a outras secretarias, digo de fato, que todos nós patinaremos no quesito segurança pública.

Não somos especialistas em segurança pública, mas somos os que sofrem com a má gestão dela. Quando se anuncia mais polícia, vejo a repressão vinda das esquinas, enquanto nossas salas de aula estão sem professores, nos fazendo desestimular, e a cada dia reforça que ninguém liga pro lado de cá.

Não queremos mais polícias, queremos as bibliotecas abertas; clubes poliesportivos; cinemas a baixo custo; uma escola gratuita e de qualidade e para todos; queremos acesso à internet; a capacitação profissional; o direito de andar de skate; o direito de expressar a arte das ruas; direito de estudar em uma universidade pública, direito de ser recebido pelos gestores do Governo do Distrito Federal.

Proponho um fórum permanente de violência no DF. Um espaço onde a sociedade civil, organizada, e o Estado possam dialogar e juntos encontrar saídas para tais problemas. Se fazemos tanto, por que nada muda? Será que estamos entendendo direito o que se passa?!


Max Maciel

Fonte: Jornal de Brasília de 01/06/08 e Correio Braziliense de 02/06/08

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