sábado, 28 de junho de 2008

Cidadenia



Fui criada em Ceilândia, a maior cidade do Distrito Federal. Sempre me impressionei com a quantidade enorme de lixo que se joga nas ruas da cidade.Também impressiona como lá as faixas de pedestre quase não são respeitadas. O capim que cresce na Ceilândia não se compara com a grama que se apara em outras lugares, como o Lago Sul ou a Esplanada dos Ministérios. No caso de Ceilândia, o gramado do vizinho é mais verde sim!

Sempre me perguntei o porquê de os ceilandenses não cuidarem bem de sua cidade como os demais brasilienses. Falta de educação? A culpa é do governo?

Bem, hoje, depois de tanta indagação, acho que posso me dar uma resposta razoável: o problema é falta de auto-estima. O mesmo problema de que sofrem tantos cidadãos brasileiros.

Fica fácil entender isso se fizermos uma analogia desses cidadãos com uma criança tratada com descaso pela mãe desde sempre, e que o pai ela nem sabe quem é. Todos sempre a rejeitaram por causa disso, e ela nunca exigiu nada além disso, por não acreditar mesmo que fosse merecedora de qualquer atenção por parte de alguma pessoa. Daí, um dia, mesmo sem auto-estima, essa criança se torna um adulto batalhador, e por causa de seu esforço, consegue um bom emprego e agora tem dinheiro pra ajudar sua mãe a ter uma vida melhor… Como num passe de mágica, aparecem amigos que antes o ignoravam, sua mãe o trata com um carinho que antes nem ela sabia que existia. E a auto-estima deste novo adulto vai melhorar constantemente agora que se sente amado e observado.

Bom, o mesmo tem acontecido com Ceilândia, criada na década de 70 pra ser uma Centro de Erradicação de Invasões (CEI), funcionou muito bem pra esvaziar o planalto central. Milhares de nordestinos se deslocaram dos acampamentos de obras da capital pra fundar esta imensa cidade, e nela trabalharam duro por décadas e construíram uma economia (inclusive exportadora) que hoje faz a diferença no Distrito Federal.

Desde que este fator foi divulgado, como num passe de mágica, Ceilândia tem grandes investidores. São faculdades, hipermercados, um grande hospital particular, o maior SESC de Brasília, inaugurado há alguns meses, uma recente aquisição de área para construção pela MB engenharia (uma das maiores construtoras de Brasília) e outra por uma grande faculdade de Brasília, que até então só atuava no Plano Piloto. Ah, sem contar o Sambódromo que foi transferido pra lá e todos os anos recepciona o Carnaval de Brasília, atraindo foliões de diversas cidades.

Tudo isso deve contribuir para a auto-estima de nós ceilandenses, com certeza. Porém, os entulhos permanecem nas entrequadras. Recém lançada pelo governo verde, a operação Cidade Limpa promete acabar com os entulhos das entrequadras em quinze dias. Confesso que como ceilandense, mesmo que distante, fico muito feliz com estas iniciativas, sonho o melhor pra esta cidade, mas ainda penso que pra curar totalmente nossa auto-estima, vamos precisar de um pouco mais de cidadania, que o governo pode proporcionar através de campanhas que incentivem os cuidados com “nossa casa”. Afinal, isso é dar atenção e carinho ao povo que o escolheu nas urnas. Mas como li recentemente, não se deve apelar ao senso de gratidão de ninguém, antes deve-se oferecer utilidade em troca dos favores pedidos: Ceilândia já é uma potência econômica mesmo sem auto-estima, com auto-estima então, sr. Governador, fará muito mais por Brasília.


Raquel Carvalho

Fonte: Música, Literatura, Poesia, Política, Cidadania e Um Chazinho…

Um comentário:

Anônimo disse...

Ótima reflexão sobre os problemas da cidade!