Teimosa, incansável, valente, sofrida, alegre, cantante, dançante. Ceilândia é a maior e a mais célebre cidade-satélite do Distrito Federal (não há nenhum demérito em ser satélite, que o diga a Lua). Mereceu até um poema de Drummond, poeta condoído com as diferenças entre a capital moderna e a cidade que, quando surgiu, foi considerada a maior favela do país.
Quando nasceu, há 38 anos, Ceilândia era a soma das vilas do Iapi, Tenório, Esperança, Colombo, Bernardo Sayão, dos morros do Urubu e do Querosene, da Placa das Mercedes e do Curral das Éguas, todas elas invasões que abrigavam brasileiros que vieram tentar aproveitar de um cadinho da riqueza da nova capital.
Ceilândia já nasceu gigante: 82 mil almas foram transferidas para uma área de cerrado distante de tudo, sem água, sem luz, sem esgoto, sem ônibus, sem rua. A rigor, as invasões apenas mudaram de lugar, se uniram num território único, o que ironicamente confirmava o slogan da Campanha de Erradicação das Invasões (Cei): “A cidade é uma só”.
Perto dos 40 anos, Ceilândia deu um salto de qualidade, não dá pra negar, mesmo que as ruas estejam quase intransitáveis e os serviços básicos de transporte, educação, saúde e segurança continuem maltratando a população de 344 mil habitantes (Censo IBGE 2000).
Se até agora, Ceilândia cresceu pelas bordas, agora cresce para cima. Predinhos de 15 andares (com pilotis servindo de garagem, que pecado!) surgem pelo centro da cidade e nas proximidades das estações do metrô. O hipermercado ao lado da Administração Regional e o Atacadão na saída pra Taguatinga são evidências de que a cidade tem um potente mercado consumidor. No hipermercado, por exemplo, a oferta de produtos não se diferencia em nada, pelo que meus olhos puderam alcançar, das unidades do Plano Piloto. Até as seções de produtos orgânicos, de frutas nobres e de produtos diets têm a mesma diversidade de oferta.
Nem por isso, Ceilândia perdeu a identidade. Continua popular, nordestina, repentista, forrozeira como dantes. A cidade dos incansáveis continua fiel aos ritmos que embalaram sua história e às feiras que matam a saudade da buchada de bode, do sarapatel, do mocotó e da cerveja no copo americano.
Ceilândia é tão festiva que é ao mesmo tempo a capital brasiliense do repente, do cordel, do samba e do forró. Tem um pé na tradição popular nordestina e outro no rap, no break , no grafite — expressões da resistência de uma juventude de periferia que se recusa valentemente a se marginalizar.
Ceilândia é uma e são muitas. É a da Caixa d´Água, da Guariroba, do Setor O (o setor bolinha) do P Norte, do P Sul, das Expansões, nos novos condomínios e das quês trava-língua: a QNM (que-nada-maria), da QNN (que-nada-nada), da Que-Ene-Pê, da Que-Ene-Que e da Que-Ene-Erre.
Ceilândia é a cidade de personalidade mais forte do quadradinho. Feliz aniversário!
Conceição Freitas
Obs.: É visível o amor da cronista com a cidade de Ceilândia, mas também é interessante informar que o Atacadão Extra se encontra verdadeiramente na Região Administrativa de Taguatinga.
Fonte: Correio Braziliense de 27/03/09
Quando nasceu, há 38 anos, Ceilândia era a soma das vilas do Iapi, Tenório, Esperança, Colombo, Bernardo Sayão, dos morros do Urubu e do Querosene, da Placa das Mercedes e do Curral das Éguas, todas elas invasões que abrigavam brasileiros que vieram tentar aproveitar de um cadinho da riqueza da nova capital.
Ceilândia já nasceu gigante: 82 mil almas foram transferidas para uma área de cerrado distante de tudo, sem água, sem luz, sem esgoto, sem ônibus, sem rua. A rigor, as invasões apenas mudaram de lugar, se uniram num território único, o que ironicamente confirmava o slogan da Campanha de Erradicação das Invasões (Cei): “A cidade é uma só”.
Perto dos 40 anos, Ceilândia deu um salto de qualidade, não dá pra negar, mesmo que as ruas estejam quase intransitáveis e os serviços básicos de transporte, educação, saúde e segurança continuem maltratando a população de 344 mil habitantes (Censo IBGE 2000).
Se até agora, Ceilândia cresceu pelas bordas, agora cresce para cima. Predinhos de 15 andares (com pilotis servindo de garagem, que pecado!) surgem pelo centro da cidade e nas proximidades das estações do metrô. O hipermercado ao lado da Administração Regional e o Atacadão na saída pra Taguatinga são evidências de que a cidade tem um potente mercado consumidor. No hipermercado, por exemplo, a oferta de produtos não se diferencia em nada, pelo que meus olhos puderam alcançar, das unidades do Plano Piloto. Até as seções de produtos orgânicos, de frutas nobres e de produtos diets têm a mesma diversidade de oferta.
Nem por isso, Ceilândia perdeu a identidade. Continua popular, nordestina, repentista, forrozeira como dantes. A cidade dos incansáveis continua fiel aos ritmos que embalaram sua história e às feiras que matam a saudade da buchada de bode, do sarapatel, do mocotó e da cerveja no copo americano.
Ceilândia é tão festiva que é ao mesmo tempo a capital brasiliense do repente, do cordel, do samba e do forró. Tem um pé na tradição popular nordestina e outro no rap, no break , no grafite — expressões da resistência de uma juventude de periferia que se recusa valentemente a se marginalizar.
Ceilândia é uma e são muitas. É a da Caixa d´Água, da Guariroba, do Setor O (o setor bolinha) do P Norte, do P Sul, das Expansões, nos novos condomínios e das quês trava-língua: a QNM (que-nada-maria), da QNN (que-nada-nada), da Que-Ene-Pê, da Que-Ene-Que e da Que-Ene-Erre.
Ceilândia é a cidade de personalidade mais forte do quadradinho. Feliz aniversário!
Conceição Freitas
Obs.: É visível o amor da cronista com a cidade de Ceilândia, mas também é interessante informar que o Atacadão Extra se encontra verdadeiramente na Região Administrativa de Taguatinga.
Fonte: Correio Braziliense de 27/03/09
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