sexta-feira, 5 de junho de 2009

Tensão em escola

A atuação de gangues, a presença constante de traficantes e as ameaças de morte viraram rotina para os professores do Centro de Ensino Fundamental 11, na Guariroba. Estudantes da escola usam a violência para intimidar os docentes e, assim, evitar transferências para outros colégios. Os ex-alunos se juntam ao grupo para levar o pânico ao colégio. Esta semana, um adolescente de 14 anos ameaçou um professor com uma faca depois de ser repreendido em sala de aula. Além das agressões verbais diárias, o terrorismo contra os funcionários se estende para a internet. Em um site de relacionamentos, um grupo de alunos fez uma enquete para saber de que forma os adolescentes matariam uma professora. As respostas assustam e chamam atenção para o nível de agressividade dos adolescentes.

O problema é antigo, mas os casos recentes deixaram a equipe do colégio aterrorizada. Os funcionários registraram ocorrência na Delegacia da Criança e do Adolescente, em Ceilândia Centro, e acionaram o Sindicato dos Professores. Ontem, pela primeira vez, uma dupla de policiais militares fazia a segurança da porta da escola. O temor é que o patrulhamento seja apenas provisório.

As vítimas das ameaças têm medo de aparecer e só aceitaram dar entrevista com a condição do anonimato. Eles contam que adolescentes envolvidos com gangues esperam professores na porta da escola para intimidá-los. Na semana passada, uma docente chegava a pé quando foi abordada por um ex-aluno, de 14 anos. “O garoto dizia que eu tinha que pagar por ele ter sido transferido e apontou para um grupo grande de rapazes, que faziam parte da gangue dele”, conta uma das vítimas.

O grande temor é que as ameaças se transformem em crimes. “Eles chutam o portão, batem nos nossos carros e ficam na frente da escola para bloquear nossa saída. Todos os professores estão trabalhando sob pressão e com medo”, explica outro docente.





O caso mais grave aconteceu na última terça-feira, quando um adolescente de 14 anos, aluno da 5ª série do ensino fundamental, tumultuava a aula. O professor repreendeu o estudante por seu mau comportamento e, logo depois, o garoto começou a xingá-lo. O docente expulsou o jovem indisciplinado da classe e determinou que ele fosse à direção. O aluno fugiu do centro de ensino. Ao deixar o colégio, por volta das 18h, o professor se deparou com o aluno. “Ele colocou a mão na cintura e me mostrou uma faca. Disse que me mataria se eu me metesse com ele. O pior é que chamamos a mãe do rapaz à escola e ela relatou que não tem controle sobre o filho porque ele é dependente químico”, afirma a vítima. “É preciso que haja uma intervenção, antes que tenhamos uma tragédia”, pediu o docente.

Os 800 estudantes do Centro de Ensino Fundamental 11 de Ceilândia têm entre 10 e 17 anos e a maioria apresenta grave distorção entre a idade e a série em que deveriam estar matriculados, por causa da repetência.

Uma integrante da direção descobriu na semana passada uma comunidade no Orkut em que alunos discutiam formas de matá-la. “Eu daria uma voadora e, quando ela caísse, pisaria na cabeça até começar a sair pedaços do cérebro”, diz um garoto, aparentando 13 anos. “Eu esquartejava essa rapariga”, ameaça. “Eu descarregaria uma pistola na cabeça dela”, diz outro comentário. As páginas foram impressas e encaminhadas à polícia.




O delegado-chefe da DCA II, Francisco Antônio da Silva, garante que os agentes vão investigar o caso. “Costumamos receber casos de professores ameaçados e agredidos. Com relação ao CEF 11, vamos ver se a acusação procede e trabalhar para identificar envolvidos”, explica o delegado.

Na Secretaria de Educação, os técnicos adotam ações repressivas e preventivas. Em Brazlândia, há pouco mais de duas semanas, a secretaria teve que acionar a PM para controlar ameaças de alunos transferidos de uma escola. “Solicitamos à PM que fosse feita uma operação e a situação já está sob controle. O mesmo será feito com relação ao CEF 11”, explica o assessor especial para Políticas de Promoção da Cidadania da Secretaria de Educação, Abílio Naddolene. Ele destaca que o foco do trabalho é atuar na prevenção da violência, capacitação de professores e divulgação da cultura da paz.



Fonte: Correio Braziliense, Rede Globo e Rede Record

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