sábado, 27 de junho de 2009

Desperdício e perigo

O que você aproveita de tudo o que leva do mercado para casa? Será que aquela sobra da geladeira, as roupas e sapatos usados, ou mesmo as embalagens de plástico, vidro ou metal não poderiam ter outro fim, que não a lata de lixo? Estudos apontam que o brasileiro descarta um terço de tudo o que compra.


Muita coisa do lixo caseiro que poderia ser melhor aproveitada, reutilizada ou reciclada vai embora. Além disso, diversos itens que poderiam ser reaproveitados perdem o valor de reciclagem porque são depositados de maneira inadequada. Separar o lixo em casa e exigir dos responsáveis a coleta seletiva ainda são coisas distantes da realidade dos brasileiros.

Conforme apontam estudos realizados pela Organização Não Governamental Compromisso Empresarial para Reciclagem (Cempre), o Brasil consegue reciclar 12% do total das 150 mil toneladas de lixo produzidas diariamente nas cidades e municípios, incluindo materiais orgânicos (restos de alimentos e poda de jardinagem) e vidro, plástico, papel, borracha e metal.

Os outros 88% do lixo ainda seguem para aterros ou lixões. A média de geração de resíduos per capita no país gira em torno de 800 gramas por habitante a cada dia, sendo que nos grandes centros urbanos como Rio de Janeiro, São Paulo e Curitiba, este índice ultrapassa a média de 1 quilo por habitante.






Os estudos apontam, ainda, que não existem sistemas de incineração de lixo urbano com controle ambiental e recuperação de energia. Cerca de 1% apenas é incinerado, incluídos aí os resíduos de serviços de saúde. O elevado percentual de resíduos orgânicos presentes no lixo influi diretamente na questão da disposição final em aterros, pois dificulta o seu gerenciamento, especialmente o tratamento do chorume – presente em grandes quantidades – e de gases da decomposição da matéria orgânica, os quais contribuem de forma significativa para o efeito estufa, caso não sejam drenados.

O diretor-executivo da Cempre, André Vilhena, acredita que é possível construir um modelo sustentável de reciclagem de lixo urbano, se a sociedade se unir em torno de um projeto sério. Além dos benefícios ambientais, destacam-se os impactos sociais, com a geração de emprego e renda para as camadas menos favorecidas. “Queremos chamar a atenção para a reciclagem como indústria de grande potencial econômico e solução para os impactos ambientais”.
Exemplo da estrutural
Os 88% do lixo que ainda seguem para aterros ou lixões representam um potencial de R$ 10 bilhões por ano que vão embora com a falta de aproveitametno. "O País poderia ganhar com esse total se adotasse uma política capaz de estabelecer as diretrizes do reaproveitamento do lixo", avalia Vilhena.

Um exemplo claro da situação de hoje em dia, em contraposição ao que se espera, é o caso da catadora Iolanda Soares da Silva, 27. Ela trabalha no aterro da Estrutural há oito anos. “Se o lixo viesse separado e limpo, além de facilitar e valorizar nosso trabalho, muita coisa que se perde poderia ser 100% aproveitada. E não é só a gente quem ganharia com isso, mas todo mundo”, diz a catadora.

Iolanda também reclama das péssimas condições de trabalho e da falta de segurança. “Ano passado pagamos entre R$ 20 e R$ 30 para uma associação que prometeu entregar luvas e botas, mas nada veio até hoje. A maioria trabalha sem nada e se machuca com lâminas, agulhas e cacos de vidro contaminados”, alerta Iolanda.

Além disso, a catadora lembrou dos últimos acidentes que ocorreram no lixão da Estrutural. “Ano passado mesmo um catador novato, filho de uma colega nossa daqui do aterro foi atropelado por uma esteira e teve as pernas esmagadas. Ele foi atendido no Hospital de Base e liberado. Depois de dois dias morreu em casa”, contou. Iolanda lembrou de outro atropelamento no aterro, em 2007.



Fonte: Jornal de Brasília

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