quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Duas feiras

Ceilândia possui uma população de cerca de 350 mil habitantes, em sua maioria nordestinos ou descendente de nordestinos, que vieram para a capital em busca de uma vida melhor e aqui acabaram ficando. Também aqui instalaram sua cultura e costumes, associadas à de outras regiões, mas sem perder seu domínio. O ícone visível desta cultura é a Feira Central de Ceilândia, que comporta 460 bancas. Criada em 1984 ela reúne roupas, calçados, artigos para o lar, hortifrutigranjeiro e uma culinária de dar inveja. Porém por muito tempo a Feira Central foi cercada por camelôs, que ali também vendiam de tudo um pouco, mas com a entrada do governo Arruda a feira do centro (ou dos camelôs) foi transferida para uma instalação há cerca de 300 metros do local original, com mais espaço, segurança, estacionamento fechado e dentro da legalidade. A feira, criada em agosto de 2007, foi batizada de Shopping Popular de Ceilândia (ShPC) e possui 834 bancas. Mesmo agora que está em local de melhor qualidade e tem um maior número de bancas o ShPC não tem dias muito proveitosos em relação a lucros. Já a Feira Central, que com a retirada dos camelôs do centro da cidade ficou mais visível, diz está se mantendo e progredindo a passos curtos.

O administrador da Feira Central Francisco Nogueira, o França, está a quase 16 anos à frente da administração e possui duas bancas na feira. Ele afirma que passam pela feira, por semana, entre sete e 10 mil pessoas. Elas se dividem na compra de artigos para uso pessoal, nos restaurantes de comidas típicas e artigos para o lar. Outro chamativo para o movimento é a Feira Central ser usada como ponto de encontro. “A quantidade de nordestinos que vem a feira é muito grande. Eles usam o local não só para comprar, mas para encontrar outras pessoas”. – afirma França. – “As pessoas vem até a administração e muitas vezes pedem para anunciar outras com o intuito de reencontrá-las”. Durante a entrevista França não quis revelar números oficiais sobre o balanço geral da feira. Ele diz não achar seguro e nunca ter feito um balanço, por isso não possui dados, porém nos dois dias em que durou nossa reportagem conversamos com alguns donos de bancas e podemos calcular uma média de 100 mil a 120 mil reais por mês da feira.

Do outro lado está o ShPC que apesar de está instalado a quase um ano, ainda não tem uma clientela tão grande e sofre com o não direcionamento de clientes até lá. Os boxes não foram entregues até hoje e muitos tem bancas improvisadas. Mesmo com a propaganda feita pelo Governo do Distrito Federal a presidente da Associação dos feirantes do ShPC, Ana Maria Oliveira Lima, diz que a feira não recebe nem 20% dos fregueses que recebia quando estava no centro da Ceilândia. Segundo balanço fornecido pela presidente no mês de fevereiro, o ShPC arrecadou R$17.890. “O movimento aqui está muito fraco e os lucros caíram muito”. Cada feirante paga uma taxa única de R$ 10 por semana que serve para a manutenção das instalações, funcionários e materiais referentes ao andamento da feira, tudo documentado. “Nós ainda não pagamos as taxas do governo” – Diz Ana Maria.

Na Feira Central, França afirma que a taxa chega no máximo a R$ 100, o que já inclui os benefícios para os feirantes e propaganda. Esta informação foi rebatida minutos depois por uma das primeiras feirantes da Feira Central, Dona Socorro, que trabalha na mesma banca desde a inauguração. Ela nos conta que a taxa é de R$ 50 por semana, mais imposto Candango (contribuição paga ao GDF), no fim do mês o total por banca chega a quase R$300.

Além da retirada dos camelôs do centro outro fator que contribuiu para o aumento da clientela foi a diminuição dos roubos e assaltos, com a segurança os clientes voltaram a transitar pela feira. Eram encontrados de 50 a 60 carteiras de identidade por mês, segundo França esse número caiu para zero depois da retirada.

Uma das grandes vantagens da Feira Central sobre o Shopping Popular fica por conta da tradição. As pessoas que freqüentam a Feira Central vão em busca de produtos já conhecidos por eles, e muitas vezes por estarem a muito tempo instalados na feira os comerciantes criam amizade e um vinculo de confiança com os clientes. A feira dos camelôs, que hoje é o ShPC, se descaracterizou com a mudança de local, mesmo não ficando muito longe do centro da cidade ela não possui a tradição e os vínculos que os comerciantes da Feira Central criaram após tantos anos. Outros fatores são os produtos e as comidas que já estão adaptadas ao gosto de muitos clientes, aparentemente os produtos possuem características diferentes de qualidade, o que também ajuda na opção de escolha de um produto.
Os preços possuem diferenças, chegam a 60% do valor de uma para outra. Os comerciantes dizem que o motivo é que a mercadoria possui uma qualidade melhor. – Mão de obra mais cara, qualidade melhor, preço maior.

A Feira Central também é ponto de encontro e referencial... ...as famílias almoçarem nos finais de semana, as comidas típicas de varias regiões e estados do país atraem os clientes que a muito tempo saíram de sua terra natal. Este é um mercado que a Feira Central é quase imbatível, disputando até com restaurantes da cidade.

Enquanto isso o ShPC sofre com bancas precárias, algumas remanescentes do incêndio ocorrido no meio do ano passado, quando ainda estavam no centro da cidade, as barracas de comida não possuem espaço e condições para preparar comidas mais elaboradas, e tem que se contentar em produzir uma alimentação mais básica. Pastéis e sanduíches são a maioria das refeições produzidas nas 18 barracas que trabalham com alimentos.

Boa parte das bancas da Feira Central já trabalha com cartões de crédito e débito, o que facilita o parcelamento, enquanto isso a presidente Ana Maria tenta trazer para o ShPC caixas eletrônicos, mas ainda espera a regularização da documentação final do espaço.
Principalmente nos finais de semana a procura por produtos como hortifrutigranjeiro é intensa na Feira Central, já no Shopping Popular estes produtos não possuem autorização e nem espaço especifico para venda.

Frank é funcionário na banca 413, da Feira Central, há quatro anos, ele não acha que a retirada foi tão boa, e acredita que as vendas da loja caíram. O mesmo diz Dona Socorro, ela relata que os clientes têm deixado de ir nos finais de semana para a Feira Central e ido nas quartas-feiras para a chamada Feira dos Goianos que fica a cerca de 5km do centro da Ceilândia. Os produtos lá costumam ser mais baratos por não possuírem os mesmos impostos que as bancas fixas da Feira Central possuem, daí o maior poder de barganha. Os feirantes do ShPC também concordam, mas reclamam menos por não pagarem, por enquanto, os impostos normais. Eles só começaram ser pagos quando a documentação estiver pronta.
A maior quantidade de produtos, variedades e a acessibilidade facilitada, pelo local que se encontra a Feira Central, ajuda nas vendas, mas no caso do ShPC a mudança esta levando muitos a falência, isto devido a porção mínima de clientes que se dirigem até lá, apesar de não ser tão longe da outra feira.


Suzano Almeida

Fonte: Eternidades da Semana

4 comentários:

Suzano Almeida disse...

Gostei muito de ver que minha matéria foi útil não só para os leitores do meu blog, mas também para os do 100% Ceilândia, e fico muito honrado com isso.
Caso precisem mais detalhes sobre a matéria, ou sobre outras, deixem um email de contato no Eternidades da Semana, será um prazer poder ajudar.

Suzano Almeida disse...

Mais uma coisa,não é necessário que num país democratico como o nosso haja certos tipos de censuras, como este quanto as postagens nos comentários. Caso seja de mau gosto apenas exclua,mas opiniões e comentários devem ser deixados para o crescimento do blog.
Abraços.

100% Ceilândia disse...

Olá, Suzano.

Suas críticas e sugestões são muito bem-vindas ao blog.

Quanto a censura, talvez o Blogger pode ter dado algum problema... Daí os internautas terem dificuldades em postar suas opiniões. Também reiteramos que todos podem participar nas postagens - existe até uma opção para quem quer publicar como Anônimo.

Sempre que possível estaremos publicando as matérias do blog "Eternidades da Semana".

Abraço!

Anônimo disse...

Parabéns pela matéria...as pessoas mais humilde não têm vez nos canais de televisão e rádio, precisam ser ouvidas. Fiquei muito feliz ao ler o texto que aponta vário pontos de vista sobre o Shopping Popular de Ceilândia. As pessoas precisam da nossa ajuda.