quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Opinião: olho graaande

Foi publicado nessa quarta-feira (10/09), no Diário Oficial do DF, decreto que revoga os alvarás de emitidos pela Administração do Guará para a construção de 34 prédios perto da Estrada Parque Indústria e Abastecimento (Epia), numa área atrás do Carrefour Sul, entre o ParkShopping e o Casa Park. Vinte dos 34 prédios teriam altura maior que a permitida.

Originalmente aquela área se destinaria apenas a garagens, oficinas, concessionárias de veículos e estabelecimentos comerciais, como shoppings. Uma mudança proposta pela Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente (Seduma) autorizou o uso residencial de nove lotes para uma região onde, pela proposta original de Brasília, não deveria haver residências. E que agora poderá ser ocupada por até 6 mil moradores.

A corretíssima decisão do GDF de revogar os alvarás me faz lembrar que a incansável turma que vive da especulação imobiliária também já anda espichando o olho cheio de cifrões para os imóveis que ficam próximos à via do metrô em Ceilândia. Querem que o gabarito daqueles imóveis seja aumentado.

Isto aconteceu também nas áreas próximas às linhas do metrô de cidades como o Rio e São Paulo. Naquelas cidades, a estratégia dos especuladores seguiu um mesmo padrão: primeiro, com a desculpa de que a medida beneficiaria os moradores, e com a ajuda de autoridades ace$$íveis, conseguiram alterar o gabarito e até a destinação dos lotes. Depois, passaram a assediar os proprietários dos imóveis para que os vendessem. Até aí tudo bem, cada um tem o direito de fazer o que bem entender com o que é seu. Mas houve casos de famílias que se recusaram a vender suas casas e foram pressionadas até com ameaças, até acabar cedendo.

Pois façamos as contas: imaginemos que próximo à via do metrô um lote que hoje tenha construída uma casa de um ou dois andares, mais eventualmente uma casa de fundos, abrigue duas famílias, cada uma com cinco pessoas. Se cada família tiver um carro, então são dez pessoas e dois carros.

Agora suponhamos que o gabarito da área seja alterado e passe a permitir (numa hipótese otimista), a construção de prédios de até quatro andares em cada lote. Com quatro apartamentos por andar. No total ali passariam a viver 16 novas famílias. Se cada uma tiver cinco membros, em um terreno onde antes moravam dez pessoas, agora viveriam 80. Se cada família tiver um carro, serão 16 veículos onde antes só havia dois. Agora multiplique esses números pelo total de lotes da região e descobrirá que, de uma hora para outra, Ceilândia ganharia praticamente uma cidade adicional.

Com todos os problemas que uma cidade acarreta: aumento no consumo de água e eletricidade (é bom lembrar que o Setor P Sul já sofre apagões devido ao crescimento desordenado) e mais produção de lixo e esgoto. Isto sem mencionar os engarrafamentos que o acréscimo no número de carros traria à região afetada. Valeria a pena?

De um modo geral, o poder público no DF sempre se dedicou mais à preservação do projeto original do Plano Piloto e adjacências. Como o atual governo tem dado demonstrações de que a partir de agora fará o mesmo em relação a outras áreas do DF, resta-nos uma esperança de que a ganância dos especuladores serja barrada também em Ceilândia.


Fonte: Ceilândia.com

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