segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Opinião: sejamos espertos

Hoje (22/09) é o Dia Mundial sem Carro. Uma data que tem por objetivo lembrar que a cultura do automóvel é responsável em grande parte pela degradação do meio ambiente, principalmente dos espaços públicos urbanos, e das relações sociais.

A este respeito, é sempre bom lembrar que nós, brasileiros, como somos mais espertos que todo mundo, seguimos nos recusando a aprender com as experiências dos outros. Veja só:

1 - Nas cidades mais modernas do mundo investe-se na construção de boas calçadas. Aqui, nos salvam algumas estreitas passarelas, já que não temos calçadas, nem boas nem ruins.

2 - Nas cidades mais modernas do mundo, investe-se na construção de ciclovias. Aqui, soterraram a que existia na avenida Hélio Prates, que ia da Fundação Bradesco ao Taguacenter, para que fossem abertas vagas de estacionamento em frente às lojas. O GDF até andou construindo ciclovias em São Sebastião, Itapoã e em Samambia. Só que, como acontece com a maioria das obras públicas do DF, em algumas delas a construtora não seguiu os padrões técnicos para este tipo de obra (mas nem por isso deixou de receber o pagamento). Construiu ciclovias sem meios-fios (foto) e com capeamento de má qualidade, que acabam colocando em risco a vida dos ciclistas. E que se dissolverão com as chuvas.

3 - Nos metrôs do mundo todo é permitido entrar com bicicletas, skates e patinetes em alguns vagões. Aqui, isto é proibido.

4 - Barcelona, uma das cidades mais movimentadas da Europa, vai fechar uma de suas principais avenidas (a Diagonal) e transformá-la em calçadão para pedestres. Aqui o governo opta por estimular o uso de automóvel e torra recursos públicos na construção de mais vagas de estacionamento e novos viadutos. Quantos ônibus novos ou vagões de metrô não daria para comprar com estes recursos?

5 - Na parte civilizada do mundo os motoristas diminuem a velocidade quando avistam um ciclista. Além de terem consciência de que o mais forte deve proteger o mais fraco, sabem também que, embora tenham seguro, em caso de atropelamento podem perder tudo o que têm com o pagamento de indenizações e despesas hospitalares da vítima. E com advogados, já que o risco de ir parar atrás das grades é altíssimo. Aqui, na mesma situação, os motoristas enfiam a mão na buzina ou passam raspando pelo ciclista. Às vezes passam por cima mesmo.

Algum “ixperto” vai ler isto e sacar do bolso a velha frase: “ah, mas não se pode comparar a realidade do Brasil com a de países desenvolvidos”.

Esquecem que os países desenvolvidos um dia foram como somos hoje. Para chegar ao ponto em que se encontram, erraram e muito. Mas trataram de consertar os erros, coisa que não se vê muito por aqui.

Uma das vantagens de países como o Brasil é que aqui muita coisa ainda está por fazer. Se fôssemos realmente espertos, em vez de “ixpéerrrtos”, deixaríamos de ficar tentando reinventar a roda com a desculpa de que precisamos encontrar “nossas próprias soluções, adequadas à nossa realidade”. Para que haja evolução é necessário mudar a realidade, não se adaptar a ela. Aproveitando de maneira inteligente aquilo que deu certo em outras partes do mundo, evitaríamos cometer os mesmos erros que outros cometeram.

Se alguém tem dúvida sobre isso, basta dar uma olhada em volta para ver aonde nossa “ixperteza” e nossa mania de querer reinventar a roda estão nos levando dia após dia.




Atualização, às 18:19 - O governador José Roberto Arruda anunciou há pouco que provavelmente dentro de 30 dias o DF já contará com uma rede de aluguel de bicicletas. É uma excelente notícia. Mas para que tudo dê certo é necessário fugir da tentação do improviso, essa praga tão brasileira que costuma desmoralizar por aqui qualquer projeto bem sucedido em outras partes do mundo. Sem ciclovias ou faixas exclusivas para os ciclistas e uma intensa campanha junto aos motoristas (acompanhada de punições para os mais agressivos) a experiência corre o risco de fracassar.


Fonte: Ceilândia.com

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