Duas semanas depois de inaugurado, o sistema de aluguel de bicicletas de São Paulo, supostamente inspirado no de Paris, é um fracasso. E atesta mais uma vez a insuperável capacidade que o poder público no Brasil tem de avacalhar com qualquer boa idéia. Parece que nossos administradores públicos são alquimistas ao contrário: especializam-se em transformar ouro em titica.
Os catalães e os parisienses têm a merecida fama de serem broncos, mal-humorados e barraqueiros. Pois mesmo com todas essas “qualidades” foram capazes de criar, cada um a seu modo, um serviço que prima pela simplicidade e eficiência. O segredo talvez esteja justamente no fato de que no sistema daquelas cidades mal se nota a presença humana.
Pois em São Paulo os responsáveis pela implantação do serviço pegaram apenas vagamente uma excelente idéia, adaptaram-na aos maus costumes locais e criaram um frankenstein que só por milagre poderia dar certo.
Em Barcelona o cadastramento dos usuários é feito por internet ou por telefone, através de uma central de atendimento do tipo 0800. Basta fornecer os dados pessoais e informar um número de cartão de crédito. Três dias depois se recebe em casa um cartão magnético. Volta-se à internet ou ao telefone para desbloqueá-lo e pronto: é só ir a qualquer estação e retirar uma bicicleta. O valor da taxa de adesão, bem como as despesas com a utilização do serviço, são debitados no cartão. O usuário pode até mesmo acessar pela internet o extrato de sua movimentação. A automação de todo o sistema é necessária inclusive para que os supervisores saibam em tempo real em quais estações há necessidade de repor bicicletas. A reposição, bem como o recolhimento de bicicletas avariadas, é feito em caminhões que circulam ininterruptamente entre as diversas estações.
A retirada das bicicletas pelos usuários é feita por meio de um terminal eletrônico, onde se passa o cartão magnético para liberá-la. Basta seguir as instruções na própria tela do terminal. A operação não dura mais que dois minutos. A devolução é mais simples ainda. Engancha-se a bicicleta em um dos pontos livres, aguarda-se o sinal de finalização e pronto.
O sistema parisiense é um pouco mais burocratizado. Mas nem de longe se compara ao que fizeram em São Paulo, onde a vítima, a cada vez que quiser alugar uma bicicleta, será recebida na estação por uma mocinha ou rapazinho pouco letrados, mas mui prestativos, que lhe exigirão o preenchimento de um formulário, acompanhado de um Termo de Responsabilidade, mais o original e uma cópia do cartão de crédito.
O cartão, claro, deverá estar com limite disponível para o bloqueio imediato não do valor do aluguel, mas do valor da própria bicicleta, para o caso de a vítima sumir com a bike, sabe como é esse povinho. Além de aceitar ser chamada na cara dura de ladrão em potencial, a vítima também precisa ter sorte. Caso a maquininha de leitura do cartão de crédito esteja com problemas ou o sistema esteja fora do ar, o que é muito comum, adeus magrela. Há relatos de pessoas que levaram mais de 30 minutos para conseguir dar suas pedaladas. Notícias mais recentes dão conta de que a exigência de cartão de crédito será abolida a partir do dia 20 de outubro. Nem tudo está perdido, afinal.
Mas enquanto na Paulicéia os administradores públicos não caem na real, eis o resumo do açúcar na feijoada: se em Paris e Barcelona, só nas primeiras três semanas, mais de vinte mil pessoas já haviam se cadastrado e estavam utilizando o sistema, em São Paulo, até agora, as bicicletas estão às moscas. Pouca gente se anima a utilizá-las, e com razão.
O que está se passando em São Paulo é resultado de vários equívocos. O principal deles é a pouca compreensão sobre o papel do novo sistema. Quiseram lançar uma novidade como se ela fosse apenas uma opção de lazer, e não um novo meio de transporte público, complementar ao metrô e aos ônibus. Assim como o metrô só pode circular se houver trilhos e os ônibus só se deslocam se houver vias apropriadas, as bicicletas só podem ser utilizadas em segurança se houver uma estrutura viária básica, composta de ciclovias e ciclofaixas. Tampouco pararam para pensar que ninguém que esteja a caminho do trabalho pode se dar ao luxo de perder 30 minutos preenchendo formulários e atendendo a outras exigências burocráticas injustificadas.
Ao contrário do que afirmam os responsáveis pelo sistema paulistano, numa tentativa de explicar suas maluquices, os casos de roubos de bicicletas em Paris ou Barcelona acontecem, mas são raros. Não porque as pessoas de lá sejam mais honestas que as do Brasil. É que, primeiro, em caso de não devolução em 24 horas o valor da bicicleta é debitado do cartão de crédito já cadastrado pela internet. Segundo, o desenho das bicicletas é exclusivo. Quem foi estúpido o bastante para roubar uma delas e levar para casa acabou pilhado em pouco tempo, denunciado pelos próprios vizinhos.
É importante que o GDF, que se dispõe a implantar brevemente uma rede de aluguel de bicicletas por aqui, acompanhe de perto o que se passa em São Paulo.
Se for para repetir equívocos tão primários, é melhor esquecer o assunto e nos poupar de mais um vexame.
Fonte: Ceilândia.com
Os catalães e os parisienses têm a merecida fama de serem broncos, mal-humorados e barraqueiros. Pois mesmo com todas essas “qualidades” foram capazes de criar, cada um a seu modo, um serviço que prima pela simplicidade e eficiência. O segredo talvez esteja justamente no fato de que no sistema daquelas cidades mal se nota a presença humana.
Pois em São Paulo os responsáveis pela implantação do serviço pegaram apenas vagamente uma excelente idéia, adaptaram-na aos maus costumes locais e criaram um frankenstein que só por milagre poderia dar certo.
Em Barcelona o cadastramento dos usuários é feito por internet ou por telefone, através de uma central de atendimento do tipo 0800. Basta fornecer os dados pessoais e informar um número de cartão de crédito. Três dias depois se recebe em casa um cartão magnético. Volta-se à internet ou ao telefone para desbloqueá-lo e pronto: é só ir a qualquer estação e retirar uma bicicleta. O valor da taxa de adesão, bem como as despesas com a utilização do serviço, são debitados no cartão. O usuário pode até mesmo acessar pela internet o extrato de sua movimentação. A automação de todo o sistema é necessária inclusive para que os supervisores saibam em tempo real em quais estações há necessidade de repor bicicletas. A reposição, bem como o recolhimento de bicicletas avariadas, é feito em caminhões que circulam ininterruptamente entre as diversas estações.
A retirada das bicicletas pelos usuários é feita por meio de um terminal eletrônico, onde se passa o cartão magnético para liberá-la. Basta seguir as instruções na própria tela do terminal. A operação não dura mais que dois minutos. A devolução é mais simples ainda. Engancha-se a bicicleta em um dos pontos livres, aguarda-se o sinal de finalização e pronto.
O sistema parisiense é um pouco mais burocratizado. Mas nem de longe se compara ao que fizeram em São Paulo, onde a vítima, a cada vez que quiser alugar uma bicicleta, será recebida na estação por uma mocinha ou rapazinho pouco letrados, mas mui prestativos, que lhe exigirão o preenchimento de um formulário, acompanhado de um Termo de Responsabilidade, mais o original e uma cópia do cartão de crédito.
O cartão, claro, deverá estar com limite disponível para o bloqueio imediato não do valor do aluguel, mas do valor da própria bicicleta, para o caso de a vítima sumir com a bike, sabe como é esse povinho. Além de aceitar ser chamada na cara dura de ladrão em potencial, a vítima também precisa ter sorte. Caso a maquininha de leitura do cartão de crédito esteja com problemas ou o sistema esteja fora do ar, o que é muito comum, adeus magrela. Há relatos de pessoas que levaram mais de 30 minutos para conseguir dar suas pedaladas. Notícias mais recentes dão conta de que a exigência de cartão de crédito será abolida a partir do dia 20 de outubro. Nem tudo está perdido, afinal.
Mas enquanto na Paulicéia os administradores públicos não caem na real, eis o resumo do açúcar na feijoada: se em Paris e Barcelona, só nas primeiras três semanas, mais de vinte mil pessoas já haviam se cadastrado e estavam utilizando o sistema, em São Paulo, até agora, as bicicletas estão às moscas. Pouca gente se anima a utilizá-las, e com razão.
O que está se passando em São Paulo é resultado de vários equívocos. O principal deles é a pouca compreensão sobre o papel do novo sistema. Quiseram lançar uma novidade como se ela fosse apenas uma opção de lazer, e não um novo meio de transporte público, complementar ao metrô e aos ônibus. Assim como o metrô só pode circular se houver trilhos e os ônibus só se deslocam se houver vias apropriadas, as bicicletas só podem ser utilizadas em segurança se houver uma estrutura viária básica, composta de ciclovias e ciclofaixas. Tampouco pararam para pensar que ninguém que esteja a caminho do trabalho pode se dar ao luxo de perder 30 minutos preenchendo formulários e atendendo a outras exigências burocráticas injustificadas.
Ao contrário do que afirmam os responsáveis pelo sistema paulistano, numa tentativa de explicar suas maluquices, os casos de roubos de bicicletas em Paris ou Barcelona acontecem, mas são raros. Não porque as pessoas de lá sejam mais honestas que as do Brasil. É que, primeiro, em caso de não devolução em 24 horas o valor da bicicleta é debitado do cartão de crédito já cadastrado pela internet. Segundo, o desenho das bicicletas é exclusivo. Quem foi estúpido o bastante para roubar uma delas e levar para casa acabou pilhado em pouco tempo, denunciado pelos próprios vizinhos.
É importante que o GDF, que se dispõe a implantar brevemente uma rede de aluguel de bicicletas por aqui, acompanhe de perto o que se passa em São Paulo.
Se for para repetir equívocos tão primários, é melhor esquecer o assunto e nos poupar de mais um vexame.
Fonte: Ceilândia.com
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