Das 300 cabeceiras de córregos e rios do DF cadastradas pelo Ibram, apenas 162 são monitoradas. Dessas, só 47 estão intactas e 51 sofrem graves ameaças ambientais, como desmatamento, lixo e esgotoA copa formada pelas folhas da palmeira faz sombra para casas erguidas no Condomínio Sol Nascente, em Ceilândia.
O tronco da árvore, às vezes, chega a sustentar barracos de madeira construídos sobre um solo de vereda, uma região de recarga do lençol freático onde a terra é encharcada e cheia de olhos d’água.
A árvore que serve de pilastra de apoio para as residências é um buriti, espécie típica do cerrado que denuncia a presença de água nos arredores. Para especialistas, basta visualizar um buriti para saber que há nascentes ou córregos por perto. Em Ceilândia, porém, a riqueza natural foi devastada pela ocupação irregular: as nascentes foram aterradas para a construção das casas, onde atualmente vivem cerca de 70 mil pessoas.
A água que brota no meio do condomínio corre para o ribeirão Melchior, um dos afluentes do Rio Descoberto, responsável pelo abastecimento de 65% da população do Distrito Federal. O manancial é um dos 93 com graves problemas ambientais, como publicou ontem o Correio. A reportagem de hoje mostra que a degradação dos córregos, na maior parte das vezes, começa ainda na nascente, a quilômetros de distância das margens, como ocorre com o Melchior.
O Instituto Brasília Ambiental (Ibram) estima que existam mais de mil nascentes espalhadas pelo DF, mas não sabe sequer a localização de 700 delas. Apenas 300 constam no cadastro do instituto e só 162 são constantemente monitoradas porque participam do programa Adote uma nascente. Mesmo entre as adotadas, há aquelas em situação precária. De acordo com o Ibram, somente 47 nascentes - 29% do total - estão praticamente intactas, ou seja, têm mais de 70% da cobertura vegetal que as protege.
Não possuir cobertura vegetal significa não ter árvores típicas plantadas ao redor, o que serve de proteção para um curso d’água. Sem as plantas, terra, folhas soltas e sujeira são arrastados pela chuva para dentro da água, causando assoreamento e erosão. Os dados do Ibram mostram que 51 nascentes têm menos de 30% da cobertura vegetal e, por isso, estão gravemente ameaçadas. “Além de estarem desmatadas, elas recebem lixo e até esgoto. A cobertura vegetal não existe mais por causa da ocupação irregular do solo”, lamenta a bióloga Vandete Inês Maldaner, coordenadora do programa Adote uma nascente.
É o que acontece na nascente do Córrego Urubu, que também está degradado. A água que forma o manancial brota perto do Varjão. Uma das nascentes fica na Quadra 5 e sofre com a ocupação urbana. Em abril deste ano, técnicos da Sudesa fizeram uma vistoria no local e a nascente estava cheia d’água. Agora, porém, terra, folhas secas, lixo e entulho tomam o lugar da água. “A nascente é intermitente, a vazão diminui mesmo na época da seca. Mas ela está muito aterrada e ameaçada de ser extinta”, explica a engenheira florestal Ester Martins, técnica da Subsecretaria de Defesa do Solo e da Água.
O Ibram contratou empresas de consultoria para mapear todas as nascentes do DF, mas ainda não há prazos para o trabalho ser concluído. Por enquanto, o que se sabe é que as nascentes em área rural estão mais conservadas e são maioria entre as adotadas: 110 delas estão em fazendas ou unidades de conservação ambiental.
“No meio urbano, a nascente é vista como um impedimento para o crescimento da cidade e é simplesmente ignorada. Já no meio rural, os produtores valorizam a presença da água e as nascentes, de uma forma geral, estão protegidas”, observa a coordenadora do Adote uma nascente.
A legislação ambiental brasileira classifica uma área de 50 metros ao redor das nascentes como Área de Preservação Permanente (APP) e proíbe qualquer construção nesse raio. Mas a lei é ignorada no DF. No Condomínio Sol Nascente, por exemplo, as casas estão em cima de olhos d’água, e aqueles que ainda não foram aterrados têm dificuldade para se manter cheios. Em um deles, é até possível ver a água correndo, mas impossível identificar o ponto exato onde ela brota porque a nascente está completamente tampada por mato e lixo. Até um sofá foi jogado no local.
Os moradores que construíram na cabeceira nem sequer sabem que ameaçam o meio ambiente. “Tem pouca água assim o ano inteiro. É uma captação que a Caesb tem lá em cima”, diz um senhor que não quis se identificar. Além de desconhecer que ocupa uma APP, o morador ignora os riscos. A casa dele foi erguida nas margens da nascente, onde uma enorme erosão se formou, e fica à beira de um barranco. O muro está torto e ameaça desabar a qualquer momento. Além disso, as casas estão sujeitas a inundações porque o solo tem pouca capacidade de absorver a água da chuva por já ser bastante irrigado.
Veja o vídeo: CorreioWeb / Tv Brasília
Fonte: Correio Braziliense de 21/10/08, Portal EcoDebate, S.O.S. Rios do Brasil, e Jornal Local de 21/10/08
O tronco da árvore, às vezes, chega a sustentar barracos de madeira construídos sobre um solo de vereda, uma região de recarga do lençol freático onde a terra é encharcada e cheia de olhos d’água.
A árvore que serve de pilastra de apoio para as residências é um buriti, espécie típica do cerrado que denuncia a presença de água nos arredores. Para especialistas, basta visualizar um buriti para saber que há nascentes ou córregos por perto. Em Ceilândia, porém, a riqueza natural foi devastada pela ocupação irregular: as nascentes foram aterradas para a construção das casas, onde atualmente vivem cerca de 70 mil pessoas.
A água que brota no meio do condomínio corre para o ribeirão Melchior, um dos afluentes do Rio Descoberto, responsável pelo abastecimento de 65% da população do Distrito Federal. O manancial é um dos 93 com graves problemas ambientais, como publicou ontem o Correio. A reportagem de hoje mostra que a degradação dos córregos, na maior parte das vezes, começa ainda na nascente, a quilômetros de distância das margens, como ocorre com o Melchior.
O Instituto Brasília Ambiental (Ibram) estima que existam mais de mil nascentes espalhadas pelo DF, mas não sabe sequer a localização de 700 delas. Apenas 300 constam no cadastro do instituto e só 162 são constantemente monitoradas porque participam do programa Adote uma nascente. Mesmo entre as adotadas, há aquelas em situação precária. De acordo com o Ibram, somente 47 nascentes - 29% do total - estão praticamente intactas, ou seja, têm mais de 70% da cobertura vegetal que as protege.
Não possuir cobertura vegetal significa não ter árvores típicas plantadas ao redor, o que serve de proteção para um curso d’água. Sem as plantas, terra, folhas soltas e sujeira são arrastados pela chuva para dentro da água, causando assoreamento e erosão. Os dados do Ibram mostram que 51 nascentes têm menos de 30% da cobertura vegetal e, por isso, estão gravemente ameaçadas. “Além de estarem desmatadas, elas recebem lixo e até esgoto. A cobertura vegetal não existe mais por causa da ocupação irregular do solo”, lamenta a bióloga Vandete Inês Maldaner, coordenadora do programa Adote uma nascente.
É o que acontece na nascente do Córrego Urubu, que também está degradado. A água que forma o manancial brota perto do Varjão. Uma das nascentes fica na Quadra 5 e sofre com a ocupação urbana. Em abril deste ano, técnicos da Sudesa fizeram uma vistoria no local e a nascente estava cheia d’água. Agora, porém, terra, folhas secas, lixo e entulho tomam o lugar da água. “A nascente é intermitente, a vazão diminui mesmo na época da seca. Mas ela está muito aterrada e ameaçada de ser extinta”, explica a engenheira florestal Ester Martins, técnica da Subsecretaria de Defesa do Solo e da Água.
O Ibram contratou empresas de consultoria para mapear todas as nascentes do DF, mas ainda não há prazos para o trabalho ser concluído. Por enquanto, o que se sabe é que as nascentes em área rural estão mais conservadas e são maioria entre as adotadas: 110 delas estão em fazendas ou unidades de conservação ambiental.
“No meio urbano, a nascente é vista como um impedimento para o crescimento da cidade e é simplesmente ignorada. Já no meio rural, os produtores valorizam a presença da água e as nascentes, de uma forma geral, estão protegidas”, observa a coordenadora do Adote uma nascente.
A legislação ambiental brasileira classifica uma área de 50 metros ao redor das nascentes como Área de Preservação Permanente (APP) e proíbe qualquer construção nesse raio. Mas a lei é ignorada no DF. No Condomínio Sol Nascente, por exemplo, as casas estão em cima de olhos d’água, e aqueles que ainda não foram aterrados têm dificuldade para se manter cheios. Em um deles, é até possível ver a água correndo, mas impossível identificar o ponto exato onde ela brota porque a nascente está completamente tampada por mato e lixo. Até um sofá foi jogado no local.
Os moradores que construíram na cabeceira nem sequer sabem que ameaçam o meio ambiente. “Tem pouca água assim o ano inteiro. É uma captação que a Caesb tem lá em cima”, diz um senhor que não quis se identificar. Além de desconhecer que ocupa uma APP, o morador ignora os riscos. A casa dele foi erguida nas margens da nascente, onde uma enorme erosão se formou, e fica à beira de um barranco. O muro está torto e ameaça desabar a qualquer momento. Além disso, as casas estão sujeitas a inundações porque o solo tem pouca capacidade de absorver a água da chuva por já ser bastante irrigado.
Veja o vídeo: CorreioWeb / Tv Brasília
Fonte: Correio Braziliense de 21/10/08, Portal EcoDebate, S.O.S. Rios do Brasil, e Jornal Local de 21/10/08
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