terça-feira, 14 de julho de 2009

Os Restaurantes Comunitários

Almoçar bem e pagando pouco é um desafio difícil de ser vencido nos self-services e lanchonetes do DF. Em casa, nem sempre há tempo de encarar o fogão para preparar uma refeição. A solução encontrada por muita gente é comer nos restaurantes comunitários. Eles vendem pratos escolhidos por nutricionistas a R$ 1. As nove unidades dos refeitórios mantidos pela Secretaria de Desenvolvimento Social (Sedest) servem cerca de 24 mil refeições diariamente.

Os restaurantes comunitários são uma opção barata não só para quem precisa comer fora de casa, mas também para os que não querem gastar no supermercado. Muitas donas de casa dão uma folga às panelas e levam os filhos para comer nos refeitórios. Em época de férias, o movimento de mães com crianças aumenta. Na manhã de ontem, a dona de casa Valdilene Cedro Pereira, 32 anos, almoçou com o filho Lucas, de 1 ano, na unidade do Recanto das Emas. Ela é a responsável por preparar suas refeições e as do bebê todos os dias. Vez por outra, prefere ir ao restaurante e economizar um pouco, além de descansar do fogão. “Com R$ 1, eu não consigo fazer um almoço, aqui é mais barato”, revelou. A economia de Valdilene é ainda maior porque um só prato é suficiente para alimentar mãe e filho. “Ele come de tudo aqui, adora uma verdura”, disse.

O perfil de quem almoça nos refeitórios é variado — são trabalhadores, estudantes, aposentados e desempregados. Em maio deste ano, a Sedest realizou um estudo alimentar sobre os usuários das unidades. A equipe descobriu que a preferência do público é pela dupla arroz com feijão — 85,9% das pessoas disseram saborear a mistura mais de cinco vezes por semana. A carne vermelha também está no topo da lista. Ela é consumida pelo menos uma vez por semana por 98% dos entrevistados.

Para não enjoar, as carnes são servidas com diferentes preparações. O frango vira estrogonofe, a carne ganha tempero à mexicana e o hambúrguer vem acompanhado de vinagrete. O prato principal preferido dos consumidores é a feijoada, citada por 34,3% das pessoas. Em seguida vêm o frango (31%) e a carne bovina (13,6%). “Nossa intenção é ter variedade, e a apresentação também é importante. Um frango tem várias maneiras se ser servido, como no fricassê e no estrogonofe”, comentou a nutricionista Maria da Conceição Nascimento.

Do total de pessoas atendidas, 24,5% são estudantes, donas de casa, aposentados ou desempregados. A aposentada Esmeralda Rodrigues, 72 anos, frequenta o restaurante do Recanto das Emas de segunda-feira a sábado. Desde que o local abriu, há três anos, ela pega um ônibus por volta das 11h e segue para a avenida central da cidade, onde fica o refeitório. “Eles (os cozinheiros) fazem tudo muito bem. Eu gosto quando tem macarrão, verdura e carne de galinha”, comentou. Esmeralda recebe um salário mínimo por mês e gasta quase tudo com aluguel, contas da casa e remédios. Como sobra pouco para fazer compras no supermercado, ela prefere almoçar fora de casa. “Eu já cozinhei muito. Parei porque o aluguel aumentou e a comida ficou cara. Aqui o tempero é bom e sai barato”, justificou.




Toda sexta-feira, dia de feijoada, os restaurantes estão lotados. Frango e carne vermelha também são sinônimos de mesas cheias. Receitas à base de vísceras, no entanto, não são garantia de sucesso. A moela saiu do cardápio por falta de apreciadores. A dobradinha divide opiniões. Quando servida no restaurante comunitário de Ceilândia, ela entra no prato de 80% das pessoas. Já na unidade do Paranoá, só 30% dos clientes provam a especialidade.

Emivaldo Gomes de Oliveira, nutricionista e responsável técnico da Terra Azul, que administra seis restaurantes comunitários no DF, explica que o ideal é a pessoa se servir de todas as opções oferecidas. “O cardápio é equilibrado. Cada refeição tem uma média de 1.400 calorias e é pensada para atender as necessidades de uma pessoa saudável. Se a pessoa não pega um dos alimentos, compromete a qualidade e a quantidade do prato”, explicou. A equipe dos restaurantes incentiva os clientes a comer mais saladas e vegetais, pratos muitas vezes deixados de lado.

Novos alimentos chegam todos os dias às cozinhas do restaurante. O cardápio é elaborado com um mês de antecedência, havendo um planejamento para não faltar nada. A organização é peça fundamental na rotina dos refeitórios. Na unidade do Recanto das Emas, a primeira leva de feijão entra na caldeira às 5h30 da manhã. Uma hora depois, é a vez do arroz. A unidade serve entre 240kg e 320kg de arroz e 150kg de feijão diariamente. São pelo menos 2,8 mil refeições servidas por dia.

Em agosto, uma novidade entra no cardápio: a bruschetta. Servida em restaurantes de luxo, a receita ganhou versão popular, mas não menos saborosa: pão com ervas, orégano, tomate, queijo, azeite e alho. Foi a maneira encontrada pelos nutricionistas de mostrar às pessoas que há alternativas ao tradicional pão com manteiga.


Fonte: Correio Braziliense

Nenhum comentário: