sábado, 4 de julho de 2009

A magia dos quadrinhos

Todos os sábados, Guilherme Gonçalves, 16 anos, acorda cedo. Às 8h, com papéis embaixo do braço e lápis na mão, já está na Biblioteca Pública de Ceilândia. Durante as quatro horas seguintes, ele e cerca de 90 outros garotos e garotas vão se dedicar a aprimorar as técnicas de traços e cores no desenho, na oficina gratuita de quadrinhos. A iniciativa voluntária existe desde o ano passado e pode chegar ao fim por falta de apoio e doações.

Quem entra na biblioteca fica fascinado ao ver aquele tanto de garotos concentrados em uma manhã do fim de semana. Meninos e meninas, a partir de oito anos, não poupam dedicação e criatividade. As aulas são abertas a toda comunidade, sem limite de idade. “A iniciativa da oficina surgiu da idéia de que Ceilândia tem muito talento para ser mostrado”, ressalta um dos professores e idealizadores do projeto, Edmilson de Melo e Silva.

A Oficina de Quadrinhos de Ceilândia foi criada a partir da monografia de Mauro César Bandeira, formado em Artes Plásticas pela Universidade de Brasília (UnB), apresentada no final de 2007. A iniciativa era oferecer à cidade uma oportunidade de se especializar nas técnicas de Histórias em Quadrinho (HQ). “Fiz esse trabalho porque eu gosto de quadrinhos e, principalmente, porque gosto de ajudar às pessoas”, explica o idealizador do projeto.

No dia 7 de junho de 2008, a idéia saiu do papel. Dez meninos se reuniram em uma pequena sala da biblioteca. As folhas brancas ganharam traços. Esses, por sua vez, ganharam formas e cores. No decorrer dos meses, mais gente interessada em aprender um pouco mais sobre desenho apareceu. O limite era só a idade mínima. Em dezembro, chegava ao fim a formação da primeira turma da oficina, já com 60 alunos. Todos com certificado na mão.

No começo deste ano, Bianca Costa Pacheco, 12 anos, começou a freqüentar a segunda turma da oficina. “Desenhava pouco quando cheguei”, conta, ao mostrar a pasta em que registra a sua evolução. Os traços retos e duros ganharam forma no decorrer dos meses. “A minha escola tem aula de artes, mas lá a gente estuda história da arte”, conta a menina.

Os grandes responsáveis em ensinar, orientar e incentivar os aspirantes à profissão de quadrinistas são sete professores, que se dividem entre profissionais formados e artistas populares. Todos eles de Ceilândia. “É um trabalho bastante comunitário. Além dos professores, os alunos aprendem um com os outros”, explica Edmilson de Melo e Silva. Os alunos que têm mais facilidade com a técnica se tornam monitores. É o caso de Guilherme Gonçalves, que começou a freqüentar as aulas no ano passado e nesse ano tem o compromisso de ajudar os professores.

Wellington da Silva Lemos, 20 anos, procurou a oficina para se profissionalizar. O jovem, que nunca tinha feito um curso, aprendeu a desenhar sozinho. Na biblioteca da cidade, Wellington desenvolve técnicas de pintura e ganha mais confiança nos traços. “Meu sonho é fazer quadrinhos e trabalhar na Marvel, uma editora americana. Mas viver de quadrinho aqui no Brasil é muito complicado. Os cursos que tem, são de difícil acesso”, lamenta o rapaz.

Alunos como Wellington são a grande inspiração dos professores. No entanto, não é só de vontade que se constrói a oficina. Papéis e lápis, todos doados, são a grande matéria-prima, mas estão escassos. E é justamente a necessidade de sobreviver de doações que ameaça a oficina.



Fonte: Jornal de Brasília

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