segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Lixo, entulho

Para onde vão as 5 mil toneladas de entulho produzidas, todo dia, no Distrito Federal? A pergunta é fácil de responder: 60% das sobras de blocos de concreto, pedaços de madeira, restos de azulejos, barras de ferro e lâminas de alumínio, entre outros materiais, são despejados em terrenos vazios e áreas de cerrado de todas as regiões administrativas. O restante é levado ao Lixão da Estrutural, único lugar autorizado pelo Serviço de Limpeza Pública (SLU) para a deposição desse tipo de resíduo sólido. O descarte dos entulhos em área não autorizada (1)virou prática comum. Em alguns pontos, o depósito irregular é feito às claras, sem nenhum constrangimento. Mas o mau hábito de jogar na rua o que não se quer mais é crime ambiental, que pode resultar em multa de até R$ 50 mil para o responsável.

Fiscais da Agência de Fiscalização do DF (Agefis) chamam as áreas usadas para descarte de entulho e lixo de “pontos críticos”. Um levantamento do SLU, concluído no primeiro semestre deste ano, revelou que existem 537 locais de depósito ilegal em todo o quadrilátero. Os pontos críticos são áreas carentes de salubridade e conservação ambiental, que, infelizmente, existem porque as pessoas têm a cultura de jogar lá os entulhos. “A população e as empresas responsáveis pela coleta jogam os materiais sem se preocupar se serão vistas. O fato é que não temos equipe para fiscalizar o dia inteiro uma única área. Há vezes em que o local é limpo de manhã e à noite já está sujo novamente”, afirmou o chefe do Núcleo de Fiscalização e Limpeza Pública de Ceilândia, Rildo Alves Wagner. Ele lembra que a multa para quem for autuado em flagrante varia de R$ 152 a R$ 50 mil.

A reportagem passou a última quinta-feira circulando pelas ruas de Ceilândia. Em terrenos vazios próximos a casas, comércio e até em frente ao Posto de Saúde nº 3, entre a QNM 23 e QNM 7, foi possível encontrar entulho e gente que ali procurava alguma sobra para levar. Num terreno ao lado do Sesc de Ceilândia Norte, um carroceiro foi flagrado jogando restos de podas, areia e estruturas de ferro. “Pensei que podia colocar porque aqui já tem muita coisa no chão”, contou Luiz Gomes Pereira, 59 anos, que recebeu R$ 5 para transportar o resíduo de uma casa do PSul para o local onde os fiscais o viram. O carroceiro é cadastrado no SLU e não foi autuado pelo despejo. Ele recolocou o entulho na carroça emplacada e o levou para uma área permitida pela Administração da Ceilândia.

No terreno vazio da QNN 11, a placa informando que é proibido jogar lixo ou entulho está lá, para quem quiser ver. Mas a impressão que dá, ao se chegar no local, é que o aviso não é suficiente para impedir que as pessoas façam isso. Uma sequência de morrinhos, feitos com restos de material de construção, lixo doméstico e até peças de aparelhos eletrônicos, foi construída sem impedimentos, como se ali fosse o destino apropriado para esses resíduos sólidos. Já na pista principal do condomínio Sol Nascente, no PNorte, há verdadeiros morros de entulho. A área acidentada está sendo aterrada com o depósito do material. Um dos responsáveis pelo crime ambiental é o pastor conhecido como Trajano. Segundo a esposa, Ana Franco, 55, ele pediu que as pessoas deixassem o entulho lá para “passar a máquina” no terreno e abrir uma vala para escoar as águas da chuva.




De acordo com o superintendente de licenciamento e fiscalização do Ibram, Eduardo Henrique Freire, foram autorizadas áreas para descartar, temporariamente, as sobras em Brasília, Brazlândia, Ceilândia, Samambaia, São Sebastião, Taguatinga, Planaltina e Recanto das Emas. Os terrenos indicados nas regiões do Gama e de Santa Maria não foram autorizados porque continham restrições ambientais, como a proximidade de leitos d’água. As indicações levaram em conta o resultado de uma consultoria contratada pelo Departamento de Estradas e Rodagem (DER) e a manifestação dos chefes dos distritos de limpeza no DF. “Enquanto não forem estabelecidos os locais definitivos, essas localidades servirão como área de descarte provisório, e futuramente, até poderão coincidir com os terrenos das áreas de transbordo”, explica.

Ele diz que as áreas provisórias estarão franqueadas às empresas que recolhem o entulho da construção civil e, para tanto, elas terão que atender a algumas condições impostas pelo Ibram. Nos terrenos que estiverem próximos às rodovias federais, por exemplo, os empresários precisam ter a anuência do DER para fazer o descarte dos materiais. E, nas áreas em que houve exploração de recursos, como areais e cascalheiras, os autores deverão fazer um plano de recuperação ambiental. Freire ressalta, no entanto, que o depósito só poderá ser feito quando o SLU entrar em contato com as empresas coletoras de entulho.



Ecopontos em Ceilândia:

Atrás do Condomínio Privê
Próximo a Usina de Tratamento de lixo, no Psul


Fonte: Correio Braziliense

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