quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Balaio de gato no Ceilândia

Dinheiro nem sempre resolve todos os problemas. O Ceilândia Esporte Clube, por exemplo, fechou uma parceria milionária em 2008, mas o empreendimento imobiliário de R$ 150 milhões com a MB Engenharia na venda da sede criou uma série de turbulências nos bastidores. Depois da destituição da presidência do folclórico Sérgio Lisboa de Almeida, o Serjão, no fim de 2007, e da acusação do ex-presidente Antônio França Cardoso de que a atual diretoria seria uma “quadrilha”, no ano passado, a cessão da vaga na elite candanga virou pivô de nova denúncia pesada.

De aliado do homem forte José Beni, o conselheiro e advogado Antônio Teixeira passou a contestar a negociação do departamento de futebol para uma empresa criada em março de 2008, em operação cercada de discrição. “A vaga é o maior patrimônio do clube. Não foi a MSI que disputou o Campeonato Brasileiro, mas o Corinthians”, lembra Antônio Teixeira, também presidente do Renovo. Curiosamente, os presidentes do Brasília (Roberto Marques) e do Brazlândia (Moacir Ruthes) também integram o conselho do rival alvinegro.

Os donos da Ceilândia Empreendimentos Ltda. são pessoas suspeitas de serem laranjas de Beni, que foi o representante da equipe no conselho arbitral do torneio local, em outubro. A dupla de baixa renda conseguiu o prodígio de dividir uma empresa de R$ 50 mil de capital social. Diretor-financeiro do Ceilândia Esporte Clube, Antônio Carlos Martins aparece em diferentes documentos ora como operador de áudio ora como empresário. Morador de Ceilândia, ganhava dentro da faixa de isenção do Imposto de Renda até 2007. No ano passado, pela primeira vez teve direito à restituição, depois de surpreendentemente virar sócio milionário do presidente do Ceilândia Esporte Clube, Célio Garcia, em uma empresa de construção.

A outra sócia é Roseane Barros Favacho, identificada no contrato como empresária e moradora de Samambaia, “investidora” dos outros R$ 25 mil. Uma façanha para quem, desde 1999, aparece como isenta de Imposto de Renda quatro vezes e outras cinco como sem constar declaração.



Enquanto a Federação Brasiliense de Futebol (FBF) aguarda resposta da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) sobre a situação legal do clube-empresa, Antônio Teixeira ameaça apelar à Justiça comum. “O mínimo é que eles vão ter que refazer todos os contratos já assinados com jogadores. É uma instituição que não existe”, critica, em alusão aos acordos firmados por Favacho.

Em outra denúncia, Antônio Teixeira aponta fraude em documentos ao negar ter firmado uma ata de assembleia. “Nunca participei de assembleia em gleba nenhuma”, endossa o vice-presidente regional da CBF, Weber Magalhães, conselheiro com firma no mesmo papel.

O presidente do clube evita divulgar sua opinião sobre a legalidade da empresa dona da vaga, criada por meio de um contrato sem a sua anuência. José Beni, por sua vez, não foi localizado desde segunda-feira. O Correio também tentou, sem sucesso, um contato por meio do advogado e amigo do chefão cartola, José Carlos de Matos.



Com a MB finalmente convertida em patrocinadora, o Ceilândia aposta em um elenco jovem para seguir no bloco de cima da tabela, como nos últimos cinco anos, quando acabou três vezes acima do tradicional Gama (2005, 2007 e 2008). “Por ser um time muito novo a experiência é pouca, mas a correria é muita. A gente vai buscar um lugar na final”, promete o treinador Marquinhos Bahia, vice-campeão candango de 2007 pelo Esportivo.

Na preparação, o Ceilândia acumulou uma derrota como visitante (2 x 0 para o Crac-GO) e uma vitória em casa (3 x 2 sobre o Anápolis). O time estreia, no Abadião, no domingo, contra o Legião. “Nós fizemos uma revolução total. Trouxemos uma garotada, mas esperamos ficar entre os quatro”, avisa o gerente Edvan Aires, ex-Gama.

Do terceiro lugar de 2008, seguem apenas o veterano artilheiro Cassius e o meia Bobby. “Vamos tentar o título. Nos últimos anos, o Ceilândia foi bem”, aposta Cassius, que estava no Brazsat, mas foi revelado pelo Gato — e ainda tem vaga até mesmo no contestado conselho do clube.

Com a saída por problemas físicos do veterano Romualdo, ex-Gama, os reforços mais tarimbados são os zagueiros Thiago Junio, ex-Gama e Atlético-MG, e Luiz Henrique, vice-campeão pelo Esportivo e que estava no futebol da Guatemala. O goleiro Ricardo, campeão candango pelo CFZ, o atacante uruguaio Nicolás Molina, de 20 anos, são outros destaques do elenco. O meia brasileiro Diego Maradona, de 21 anos e ex-São Caetano, chama atenção pelo nome de batismo.



Fonte: Correio Braziliense de 14/01/09

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