quarta-feira, 14 de maio de 2008
O verdadeiro HRC
Para entender o que ocorre entre o momento do óbito e o funeral, a CPI dos Cemitérios esteve hoje (13/05/08), em visita-surpresa, no Hospital da Ceilândia. O quadro encontrado no setor de anatomia patológica é "deplorável", segundo avaliação do parlamentares. O material colhido para biópsias e necrópsias é guardado junto e acondicionado em embalagens domésticas descartadas e reaproveitadas pelos servidores. É "arquivado" em caixas de papelão espalhadas na sala em torno da geladeira onde ficam os corpos até que sejam retirados pelas famílias. Pior: a seleção do material estava sendo feito sobre duas macas de alumínio no meio de um corredor a céu aberto.
Elton Santana, auxiliar de necrópsia, servidor há 23 anos, disse aos deputados que as condições de trabalho são péssimas. A geladeira, com seis câmaras, tem mais de 15 anos de uso, não tem manutenção adequada e, muitas vezes, problemas de energia deixam-na desligada por dias. Houve casos, inclusive, de corpos que foram cozinhados enquanto se aguardava a manutenção. É que, desligada por um tempo maior, a geladeira acaba funcionando como forno. Dos quatro cadáveres que estavam hoje no setor, um está ali há mais de um ano. É um indigente que não foi, até hoje, identificado e por decisão judicial permanece no hospital.
Elton confirmou para os distritais que as funerárias assediam servidores e familiares. Segundo ele, as funerárias sabem quando ocorre um óbito no Hospital muito antes da própria patologia. "Quando o corpo chega ao setor as funerárias já vêm junto". Ele mesmo diz ter sido procurado por empresas funerárias que lhe ofereceram entre R$ 50,00 e R$ 100,00 para que as indicasse.
Os parlamentares levaram cópias dos livros de registro de entrega de corpos nos quais fica anotado o servidor responsável e a funerária. Pretendem cruzar os dados e com isso comprovar a ligação entre as empresas e os servidores. Nas poucas páginas que folhearam uma funerária tinha a maioria quase absoluta de indicações.
O deputado Reguffe (PDT) responsável pela instalação da CPI, quer que a comissão vá a todos os hospitais para levantar esses dados. Acredita que é urgente ter essa informação e que não é preciso que sejam os próprios parlamentares a ir, "podemos mandar uma equipe técnica da CPI confiscar os livros". Para o distrital, o fato do servidor ter admitido o assédio é muito grave - pois "confirma o crime", disse.
Para Erika Kokay (PT), a CPI deve fazer uma denúncia ainda hoje à Vigilância Sanitária e solicitar a imediata interdição do setor do hospital. "O material de biópsias e autópsias acaba mesmo é no lixo comum, conforme denunciaram servidores. Há material guardado há mais de quatro anos sem que tenha sido feito qualquer procedimento. A geladeria cozinha os corpos! É um verdadeiro horror!", afirma perplexa.
"Eu não tenho mais qualquer dúvida de que há uma ligação entre servidores e as funerárias. Também está clara a existência dos papa-defuntos", acrescenta o presidente da CPI, Rogério Ulysses (PSB) que conclui: "os hospitais estão sucateados por falta de investimentos públicos. Enquanto isso, o faturamento dos cemitérios chega a quase R$ 2 milhões por mês e o governo só recebe 5% disso!".
Os distritais estiveram também visitando as funerárias que têm lojas em frente ao hospital, mas não encontraram nada irregular, nas que estavam funcionando. Uma delas estava fechada e supõe-se - pois chegou a ser aberta pela manhã - que tenha tentado se proteger contra a CPI.
Fonte: Clica Brasília, Correio Braziliense, Tribuna do Brasil, Rede Globo, Band Cidade, Jornal Local (TV Brasília) e DF Record de 13/05/08
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