sábado, 31 de maio de 2008

Professor pretende parar




As palavras saem com dificuldade por causa da dor, mas o tom é decidido. “O sentimento é de fracasso, de humilhação total. Já lutei muito, mas agora estou cansado”, resume Valério Mariano, 41 anos, 12 deles dedicados ao magistério. “Penso em me dedicar a outra atividade, até porque sou bacharel em direito e essa é uma área mais valorizada”, completa, com pesar. Os socos e pontapés desferidos por um ex-aluno foram demais para o professor de história, que se recupera em casa da surra que o deixou desacordado por horas na tarde de quinta-feira. Para a polícia, uma integração maior entre as forças de segurança e a comunidade escolar pode evitar esse tipo de ocorrência.

A agressão levou o Batalhão Escolar da Polícia Militar a patrulhar os três turnos do Centro de Ensino Fundamental (CEF) 4, que fica na QNM 21/23 de Ceilândia. Tarde demais para Valério. “É um local problemático, que precisa de policiamento. Se tivesse segurança na escola naquele momento, com certeza não teria acontecido a agressão”, avalia o educador, que ainda sente muitas dores.

Mas o patrulhamento integral da escola é temporário. “Os homens ficarão para evitar a continuidade das agressões enquanto a Polícia Civil investiga o caso”, conta o comandante do Batalhão Escolar, tenente-coronel Nelson Garcia. Para o militar, não é a deficiência no policiamento que permite a violência nas escolas. “É uma série de acontecimentos. Temos que identificar o início dos problemas para resolvê-los. Para isso é preciso que a população nos passe informações”, completa ele, que diz nunca ter sido informado sobre conflitos entre o professor Valério e o ex-aluno que o atacou.

As diferenças começaram em 2003, quando o agressor Laerte Furtado, hoje com 21 anos, foi expulso da escola por indisciplina. “A mãe dele registrou uma ocorrência na delegacia, dizendo que eu teria batido no garoto. Mas, já no começo, as investigações mostraram que eu não havia feito nada”, diz o educador. Valério conta que, na manhã de quinta-feira, estava em sala de aula quando começou a ser agredido verbalmente por Furtado. O professor levou alguns socos antes de ver o jovem se dirigir para o estacionamento.

“Ele jogou pedras no carro de outro professor achando que era o meu
e pulou o muro. Não me conformei e o persegui de carro”, narra. O educador achou Furtado poucos metros à frente. À partir desse momento, ele só lembra da transferência do Hospital Regional de Ceilândia para o Hospital de Base. “Levei uma pancada na nuca e apaguei”, resume.

A pancada, segundo testemunhas, partiu de Leonardo Alves, 19, amigo de Furtado. Os dois fugiram após as agressões e se apresentaram ontem na 15ª DP (Ceilândia). Foram autuados por lesão corporal e estão sujeitos a uma pena de três meses a um ano de cadeia, se o crime for tipificado como leve. Se o inquérito apontar para lesão corporal grave, a pena é de um a cinco anos.


Fonte: Correio Braziliense e Rede Globo

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