sábado, 17 de maio de 2008

O fim das chácaras

A Feira do Produtor de Ceilândia vende, por mês, 14 mil toneladas de alimentos, quase 70% do que a Ceasa comercializa. Além do galpão chamado de pedra, a feira ainda tem os boxes. Juntos, eles empregam 1.500 pessoas e oferecem três mil empregos indiretos.

“Economicamente é muito importante. Além de emprego, gera muitas divisas e impostos para Ceilândia. É muito comércio, muito dinheiro que gira dentro da feira”, afirma o presidente da Associação de Produtores e Comerciantes da Feira do Agricultor, Vilson Oliveira. “Por semana eu vendo uma média de R$ 8 mil a R$ 10 mil”, revela o atacadista Manoel Evangelista.

Esses números poderiam ser ainda melhores se houvesse mais incentivo para quem produz. O comerciante Ernesto Kawagima, por exemplo, produzia tomates. Hoje ele só revende. “Eu dei uma parada por falta de mão-de-obra. A chácara onde a gente planta é perto da cidade e não existe mão-de-obra do campo perto da cidade”, explica Kawagima.

A feira foi criada no início da década de 1970 para atender os agricultores de Ceilândia. Houve uma época em que a maior parte dos produtos vendidos vinha da zona rural da cidade. Hoje, Ceilândia não produz nem 40% do que é comercializado na Feira do Produtor.

“Há 10 anos, Ceilândia, juntamente com Vargem Bonita, era uma referência do abastecimento do DF em hortaliças folhosas. Já perdemos cerca de 50% da produção que tínhamos”, destaca o técnico da Empresa de Assistência Técnica de Produção Rural (Emater), José Eustáquio.

Por que houve essa redução? A resposta vem do campo. Ou melhor, do que sobrou dele. De um lado e de outro, só há loteamento. “Quando cheguei em Ceilândia, tudo era chácara. A chácara em que eu trabalho é a única que não foi loteada”, conta Ednaldo dos Santos. “Os grileiros caíram muito forte nessa região”, diz o administrador da chácara onde Ednaldo trabalha, Leonardo Gomes.

Mas a família de Leonardo não cedeu à especulação imobiliária e trocou parte da produção por estufas onde hoje são produzidos dois milhões de mudas de alface por mês. O produto é distribuído para quase todo o Distrito Federal. “Se não fosse a produção de mudas, seria muito difícil ter uma chácara abaixo da feira comunitária de Ceilândia”, acrescenta o administrador.

Os donos da chácara ainda acreditam na terra. O ex-produtor Ernesto Kawagima espera poder voltar a plantar um dia. “É lamentável parar uma coisa que estávamos fazendo com gosto. Pra mim, o plantio está no sangue. Quando vejo a terra assim, dá vontade de plantar. Mas, se não tiver mão-de-obra, não tem jeito”, afirma o ex-produtor.


Fonte: Rede Globo

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