domingo, 9 de março de 2008
A supermãe
No dia 22 de julho de 1920, nascia dona Maria Madalena de Sousa. A cearense de Tamboril, hoje, tem 87 anos, mas esbanja coragem de viver e orgulho da história que construiu ao lado do amor da sua vida. Também pudera. Aos 13 anos de idade, ainda menina, Madalena foi pedida em casamento. De lá para cá, até a chegada da menopausa, aos 47 anos, não parou mais de ter filhos. Parece inacreditável, mas do ventre de Madalena saíram 32 bebês. Isso mesmo! Fazendo as contas, ela passou 24 anos da sua vida grávida e entrou para o Guiness Book (livro dos recordes), em 1977, como a mulher mais fértil do mundo. E ela mora aqui, em Ceilândia.
O maior responsável por esta proeza é o marceneiro Raimundo Carnaúba de Carvalho, marido de Madalena por 61 anos. Ele morreu há 14, com 85 anos de idade, vítima de diabete. Madalena conheceu o pai dos seus filhos quando tinha apenas dez anos, mas ainda não podia casar por causa da pouca idade. "Ele falou para mim que ia voltar para casar comigo quando eu tivesse 13 anos e voltou", conta a cearense, com um tímido sorriso.
Naquela época, o casamento só era autorizado com 14 anos completos, mas isso não foi impedimento. "Ela alterou a certidão de nascimento para poder se casar", revela a filha mais nova de Madalena, Maria Aparecida Carnaúba, 40 anos, funcionária do GDF. Mesmo contra a vontade do pai, a moça que tinha 13 anos se uniu ao marceneiro e passaram anos de muita felicidade, garante ela, que deu entrevista ao Jornal de Brasília ontem, no Dia Internacional da Mulher.
O casamento atraiu cerca de 400 pessoas e a festança durou até o dia amanhecer. "Ele gostava muito de dançar", relembra, com saudade, a viúva. Daí em diante, a barriga de Madalena não parou mais de crescer. Cinco gestações foram de gêmeos. Raimundo Carnaúba mal esperava o período de resguardo. "Era bom. Era só o tempo de eu descansar um pouquinho", brinca Madalena, que ainda tem saudade dos momentos ao lado do marido.
O médico que cuidava das mulheres em Tamboril só aparecia na cidade uma vez por mês. "Quando minha mãe pegou um remédio para não engravidar meu pai colocou medo nela dizendo que ia morrer. O Carnaúba gostava mesmo era de ter filho", disse, entre risos, Maria Aparecida.
A paixão entre o casal resultou em 32 filhos, mas apenas 17 estão vivos. Alguns morreram em decorrência de doença e outros foram abortados espontaneamente. O mais velho tem, hoje, 72 anos e mora em Águas Lindas (GO). O restante está espalhado por vários estados brasileiros. A maioria dos partos foi feita em casa, por uma parteira experiente, e apenas quatro nasceram em hospital. "Achei diferente, mas só por causa do conforto, a dor é quase igual", diz.
A fertilidade é mesmo uma marca da família Carnaúba. Em Águas Lindas (GO) mora a filha de Madalena, Maria Medalha, de 60 anos. Ela não conseguiu atingir a marca da mãe, mas pelo menos deu a ela 15 netos. Maria das Graças, de 58 anos, ficou um pouco atrás, com 12 filhos. Atualmente, são cerca de 160 netos, 100 bisnetos e 25 tataranetos.
Madalena, vez ou outra, sentia ciúmes do marido, uma vez que Carnaúba dava trabalho com mulheres. Ela conta que não faltava gente para ajudar a fazer as paneladas de comida. "As comadres vinham para ajudar minha mãe e já saíam de bucho grande", relembra Maria Aparecida.
Sempre que o marido a traía com outras mulheres, ele ficava mais carinhoso com Madalena. "Eu ficava brava, mas depois esquecia", conta, com a voz mansa, e sem ressentimentos. Por ser autora de uma história intrigante, Madalena já chamou atenção de diversas pessoas e apareceu em jornais do mundo inteiro. Além do Guiness Book, a mulher de traços fortes e olhar sincero já apareceu no Fantástico (Rede Globo), no SBT e foi entrevistada pela jornalista Marília Gabriela.
Hoje, a moradora de Ceilândia passa o dia cuidando de passarinhos e das flores de casa. Oferecer carinho e atenção aos netos, bisnetos e tataranetos não é moleza, mas ela garante que reveza o colo para poder cumprir a missão de mãe, avó a tataravó. Para ela, é isso que lhe dá mais prazer.
Fonte: Jornal de Brasília
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