sábado, 3 de maio de 2008

Discussões banais

Pesquisa inédita da Universidade de Brasília (UnB) sobre as causas da violência mostra que 70% dos homicídios registrados no DF acontecem por conta de conflitos que poderiam ser resolvidos de outra forma.

Um bom exemplo foi ocorrido nesta quarta-feira (30/04/08), Mauro Macedo Couteiro, 33 anos, foi assassinado com uma facada no peito por um rapaz identificado como Ronilson. A desavença teria começado na noite de terça-feira, em um bar da EQNM 05/07, em Ceilândia Sul, quando os dois discutiram sobre a destinação que deveria ser dada a um monte de entulho depositado próximo ao bar. Esta situação de um homem matar outro por conta de um monte de entulho parece absurda, mas é corriqueira.

Segundo estudiosos, a situação que dá origem a este tipo de morte é chamada de "conflito intersubjetivo". Na categoria estão incluídos todos os tipos de briga, exceto aquelas que envolvem negociações entre traficantes. Ao analisar os históricos das ocorrências, os pesquisadores descobriram que os desentendimentos entre pessoas matam mais que o tráfico de drogas ou os crimes contra o patrimônio. "A maioria das mortes é causada pela briga de vizinhos ou conhecidos, pelas rixas de gangue, pelos desentendimentos entre casais, patrões e empregados ou, até mesmo, por causa de brigas de trânsito", explica o coordenador do Núcleo de Estudos sobre a Violência da UnB, Arthur Trindade.

A polícia constuma tratar esses casos como ocorrências fortuitas ou impossíveis de serem evitadas, já que não haveria maneira de prever quando duas pessoas passariam de uma discussão banal para a prática de um crime contra a vida. Em 50% dos registros, um dos envolvidos nestes tipos de crimes já teria procurado alguém ou algum órgão público em busca de ajuda para resolver o problema. "O atendimento a essas pessoas foi falho, o que mostra que não estamos tendo sucesso em lidar com o conflito dentro da nossa sociedade" analisa Arthur.

Para a realização do trabalho, a equipe do Núcleo de Estudos sobre a Violência analisou as ocorrências dos últimos três anos (2005 a 2007). "Precisamos de políticas públicas de prevenção ao crimes contra a vida. Assim, podemos mudar aspectos culturais que estão na origem dessas ocorrências policiais", diz o especialista. A média no DF, nos últimos três anos, foi de cerca de 600 homicídios por ano.


Fonte: Correio Braziliense de 01/05/08

Nenhum comentário: