Nos últimos dias, a ferrenha discussão sobre a construção da Praça da Soberania projetada por Oscar Niemeyer para as proximidades da rodoviária do Plano Piloto finalmente tomou o rumo certo: o das cidades-satélites.
Nessa guinada, já houve até quem sugerisse sua construção em Taguatinga. Daí eu lembrei que certa vez, em conversa com um amigo estrangeiro que havia morado em Brasília, ele me disse que havia detestado o artificialismo da cidade. Tentei argumentar que fora do Plano Piloto as coisas eram um pouco diferentes. Perguntei se ele conhecia Taguatinga. A sua resposta foi curta e grossa: “Ah, mas Taguatinga não é uma cidade”.
Meu choque diante do rude comentário foi aos poucos sendo substituído pela compreensão, à medida em que vinha-me à memória a visão dos oito quilômetros de desmazelo da Avenida Comercial da cidade, com suas calçadas irregulares, o trânsito, o barulho, a falta de vegetação e mais uma longa lista de etc. Definitivamente os taguatinguenses já têm muito com que se torturar. Não merecem receber de lambuja a Praça da Soberania de Niemeyer.
E, claro, houve também quem colocasse Ceilândia no páreo para receber a majestosa obra. Relendo o que andei escrevendo por aqui, vi que a primeira menção às preocupações de Oscar Niemeyer com a falta de praças em Brasília foi feita pelo jornalista Lauro Jardim, da revista Veja do dia 21/12/2008. Fiquei tão animado com o assunto, que em seguida tratei dele em um post publicado em 22/12/2008. No texto , aproveitei para fazer uma ironia e uma provocação. A ironia: sugeri ao GDF que encomendasse ao insigne arquiteto algum projeto também para Ceilândia (coisa, como bem sabemos, difícil de acontecer). A provocação: pedi que as praças em Ceilândia fossem coisas simplezinhas, onde houvesse espaço para algumas árvores (coisa que, como todos sabem, é impossível de acontecer, em se tratando de Oscar Niemeyer).
É que o grande arquiteto já declarou certa vez que seu modelo de praça ideal é a Praça de São Marcos, em Veneza (na foto ao lado). Trata-se de um grande pátio totalmente despojado de adereços, o que ressalta a arquitetura dos prédios em volta. A Praça dos Três poderes, com sua aridez insuportável, é o melhor exemplo da aplicação desse pendor de Niemeyer pelo despojamento absoluto. Ele deseja, antes de mais nada, ressaltar a sua arquitetura
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Eu mesmo já propus aqui o melhor aproveitamento de nossas entrequadras e até construção de um passeio público (um calçadão pontilhado de minipraças e pequenos quiosques de serviços) que daria melhor uso àquela faixa vazia que contorna os Centros de Ensino Médio 03, em Ceilândia Sul, e o Centro de Ensino Médio 02, em Ceilândia Norte.
O passeio seria integrado à Praça da Administração, ao Centro da cidade e à Praça dos Eucaliptos. Isto só para começar. O mesmo poderia também ser feito posteriormente na outra parte da cidade que tem o mesmo desenho, contornando o CEM 04 (na parte Sul) e o CEM 07, (na parte norte).
Sei que Niemeyer é arquiteto, não urbanista. E que, em artigo publicado nesta quarta-feira (04/01), no Correio Braziliense, até já deu por encerrada a polêmica sobre sua praça. Mas fica aqui a sugestão (ou será provocação?): que tal desenhar não só o nosso passeio público (com umas arvorezinhas, por favor), como também alguma obra para complementá-lo? Poderia ser, de preferência, o Centro Cultural que nos devem desde sempre e que haviam prometido construir em 2008, ali perto do Shopping Popular.
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Fonte: Ceilândia.com
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