quarta-feira, 9 de setembro de 2009

A briga continua

A discussão das poligonais do Distrito Federal virou disputa. Preocupados com a perda de terreno que Taguatinga vem sofrendo desde que foi criada, os moradores da Região Administrativa (RA) III aproveitaram a discussão dos limites entre as cidades do DF para reivindicar a Colônia Agrícola Cana do Reino, localizada na margem da Via Estrutural, ao lado da invasão com o mesmo nome. Mas a comunidade de Vicente Pires, que investiu na região nos últimos cinco anos, não pretende abrir mão dos 370 hectares onde atualmente moram 250 famílias.

A última possibilidade de expansão da espremida Taguatinga também faz parte dos planos da recém-criada Vicente Pires, que, assim como a irmã mais velha, planeja usar a região para crescer. “Taguatinga já é rica e desenvolvida. Tem bancos, supermercados e agências dos Correios. Já Vicente Pires nasceu agora. Precisamos de espaço para nos desenvolver”, defende o presidente da cooperativa de feirantes de Vicente Pires, Jonatas Emílio, que já faz planos para a área. “Estamos comprando um terreno de cinco hectares para montar a maior feira do DF”, conta. Um hectare equivale a um campo de futebol profissional.

Em reportagem publicada na edição de ontem do Correio, o deputado distrital Benedito Domingos (PP) disse que a Cana do Reino figura como área de expansão econômica na proposta de poligonal de Taguatinga, que foi reduzida a 20% de sua área original em 51 anos de existência. Para o administrador de Taguatinga, Gilvando Galdino, os moradores de Vicente Pires têm de entender que suas residências passaram a existir como cidade agora. “Eles não podem pleitear além do que conquistaram. Não há possibilidade de discussão”, avisa, acrescentando que Taguatinga não abre mão de mais nenhum palmo.

O administrador de Vicente Pires, Alberto Meireles, prefere a diplomacia. “Temos de buscar o entendimento. Se for preciso, até dividimos a área. É tudo DF”, pondera. Para Meireles, é natural que Taguatinga tenha cedido terreno para outras regiões administrativas, dada sua grande extensão. Se necessário, segundo ele, as indústrias de Taguatinga podem até compor o setor industrial da Cana do Reino. O administrador acredita ainda que Vicente Pires pode se valer do Taguaparque — área de lazer à margem do Pistão Norte — como moeda de troca.

Presidente da Associação Comunitária do Setor Habitacional Vicente Pires (Arvips), Dirsomar Chaves é menos conciliador e considera a reivindicação dos taguatinguenses uma afronta. “Há uma história de luta e trabalho de Vicente Pires nessa área, à qual Taguatinga nunca tinha prestado atenção”, protesta Chaves. Segundo ele, em vez de disputar a Cana do Reino, Taguatinga deveria brigar para mudar a destinação das partes da Floresta Nacional (Flona) que são ocupadas por árvores exóticas. “Os trechos onde há eucaliptos poderiam ser usados para a expansão da cidade”, propõe.



Na disputa pela região, os partidários de Vicente Pires têm o importante apoio dos poucos moradores da Cana do Reino. “Nossa luta é uma só”, defende o presidente da cooperativa habitacional Cooperville, Roldiney Roy Rodrigues. Ele prefere que sua residência pertença à mais nova região administrativa do DF. “Já está tudo planejado. Taguatinga não pode chegar assim e mudar tudo”, reclama. Foram 10 as oficinas reservadas para construir o projeto urbanístico da região, que, de acordo com os planos, deve contar com cerca de 7 mil moradias de baixa renda, além de imóveis para a classe média, prédios comerciais e mistos.

Se depender dos moradores de Vicente Pires, o espaço também deve servir para abrigar os prédios administrativos da cidade. “Estamos discutindo há três anos o estudo de impacto ambiental e o projeto urbanístico da cidade. Gastamos cerca de R$ 1,3 milhões nesse processo, nós e os moradores da Cana do Reino”, conta o diretor de Infraestrutura da Arvips, Glênio José da Silva. Glênio admite que Vicente Pires não têm tanta força política quanto Taguatinga, mas aposta na força popular de sua comunidade para assegurar a Cana do Reino.



Fonte: Correio Braziliense

Um comentário:

Leão Hamaral disse...

A especulação com terras no DF é mesmo uma coisa de doidos. Imagine derrubar a floresta nacional para expansão da cidade? O que querem essa gente? Só mesmo um cara como esse do Vicente Pires para propor algo assim. Se deram bem com a usurpação de um bem público. A justiça não foi capaz de barrá-los. Agora propõem avançar na floresta.
É mesmo um crime o que cometeram e, parece, querem cometer com a FLONA.