Precioso livrinho encadernado em espiral me ensina a conhecer a inesgotável Ceilândia. Mais que isso, revela as singularidades de um lugar de resistência. Registre-se que a cidade é o território fértil do hip-hop brasileiro e que nela surgiu o mais significativo movimento popular de Brasília, os Incansáveis de Ceilândia, que reunia candangos em luta por moradia.
O livrinho de Manoel Jevan foi escrito há quatro anos, mas só agora cheguei a ele. Apresenta as treze Ceilândias que existem dentro de uma só. (Agora são treze, contando o Pôr do Sol e o Sol Nascente). Cada uma delas tem personalidade própria, nasceu num determinado contexto político e histórico. A primeira surgiu para abrigar milhares de candangos sem teto. A Campanha para Erradicação das Invasões produziu a satélite de mais forte personalidade do quadradinho.
A segunda Ceilândia é o Setor O ou Setor Bolinha, como seus habitantes costumam chamá-la. O nome deve-se não apenas ao redondinho da letra, mas à Rádio Bolinha, criada por um grupo de “subversivos pioneiros do ar” nos anos 1980, ainda no regime militar, como escreveu Manoel Jevan. Os moradores do Setor Bolinha, hoje de classe média, não gostam muito da vizinhança, mas uma de suas atrações mais conhecidas é a Feira da Periquita, também chamada de Shopping do Amor.
A terceira Ceilândia nasceu em 1977 e é uma das mais conhecidas, a Guariroba, nome de uma palmeira nativa do cerrado e da fazenda onde a cidade foi assentada. Os lotes foram entregues em ordem alfabética, daí que havia uma rua só de Maria, outra só de Francisco, outra só de João.
A Ceilândia de número quatro surgiu em 1979, o P Sul, bairrista como o quê. Há motivos. No bairro foram encontrados vestígios da presença humana no Planalto Central há mais de sete mil anos. O P Sul faz por onde: é uma das comunidades mais bem organizadas de Ceilândia. O resultado é um bairro urbanizado e rico em projetos de cidadania.
O P Norte foi o último bairro de Ceilândia nascido sob a política habitacional do regime militar. Diz Jevan que é o centro culturalmente nervoso da cidade, “juntando desde os cabeludos do Ferrock até os manos do DJ Jamaica, sem esquecer os rastafáris do reggae-man Serginho Jah e as santas letras acadêmicas de dona Percília”.
A Expansão do Setor O foi o primeiro assentamento criado pelo regime democrático. Nasceu da pressão popular — o movimento dos inquilinos chegou a levar às ruas 15 mil pessoas —, mas foi engolida pelo que Jevan chama apropriadamente de “populismo eleitoreiro”. A desorganização foi tamanha que os lotes foram divididos atabalhoadamente, vão de 25 m2 a 250 m2.
Dentro de Ceilândia há também a Nova Ceilândia (o Setor N Norte), a Nova Guariroba (o N Sul), o Setor Privê, o Setor Q e as QNRs.
Aprendo, ao fim das 89 páginas, que Ceilândia não tira suas forças de um projeto urbanístico, até porque não o tem. Ela se fortalece, consolida sua história e desenvolve sua cultura com a força e a alma de sua gente.
Conceição Freitas
Fonte: Correio Braziliense e Ceilândia.com
O livrinho de Manoel Jevan foi escrito há quatro anos, mas só agora cheguei a ele. Apresenta as treze Ceilândias que existem dentro de uma só. (Agora são treze, contando o Pôr do Sol e o Sol Nascente). Cada uma delas tem personalidade própria, nasceu num determinado contexto político e histórico. A primeira surgiu para abrigar milhares de candangos sem teto. A Campanha para Erradicação das Invasões produziu a satélite de mais forte personalidade do quadradinho.
A segunda Ceilândia é o Setor O ou Setor Bolinha, como seus habitantes costumam chamá-la. O nome deve-se não apenas ao redondinho da letra, mas à Rádio Bolinha, criada por um grupo de “subversivos pioneiros do ar” nos anos 1980, ainda no regime militar, como escreveu Manoel Jevan. Os moradores do Setor Bolinha, hoje de classe média, não gostam muito da vizinhança, mas uma de suas atrações mais conhecidas é a Feira da Periquita, também chamada de Shopping do Amor.
A terceira Ceilândia nasceu em 1977 e é uma das mais conhecidas, a Guariroba, nome de uma palmeira nativa do cerrado e da fazenda onde a cidade foi assentada. Os lotes foram entregues em ordem alfabética, daí que havia uma rua só de Maria, outra só de Francisco, outra só de João.
A Ceilândia de número quatro surgiu em 1979, o P Sul, bairrista como o quê. Há motivos. No bairro foram encontrados vestígios da presença humana no Planalto Central há mais de sete mil anos. O P Sul faz por onde: é uma das comunidades mais bem organizadas de Ceilândia. O resultado é um bairro urbanizado e rico em projetos de cidadania.
O P Norte foi o último bairro de Ceilândia nascido sob a política habitacional do regime militar. Diz Jevan que é o centro culturalmente nervoso da cidade, “juntando desde os cabeludos do Ferrock até os manos do DJ Jamaica, sem esquecer os rastafáris do reggae-man Serginho Jah e as santas letras acadêmicas de dona Percília”.
A Expansão do Setor O foi o primeiro assentamento criado pelo regime democrático. Nasceu da pressão popular — o movimento dos inquilinos chegou a levar às ruas 15 mil pessoas —, mas foi engolida pelo que Jevan chama apropriadamente de “populismo eleitoreiro”. A desorganização foi tamanha que os lotes foram divididos atabalhoadamente, vão de 25 m2 a 250 m2.
Dentro de Ceilândia há também a Nova Ceilândia (o Setor N Norte), a Nova Guariroba (o N Sul), o Setor Privê, o Setor Q e as QNRs.
Aprendo, ao fim das 89 páginas, que Ceilândia não tira suas forças de um projeto urbanístico, até porque não o tem. Ela se fortalece, consolida sua história e desenvolve sua cultura com a força e a alma de sua gente.
Conceição Freitas
Fonte: Correio Braziliense e Ceilândia.com
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