Mora na QNM 7 um cordelista de nome Joaquim Bezerra Nóbrega, filho de um bravo candango que veio para Brasília em 1959 trabalhar na construção do 28. Dez anos depois, o pai foi buscar família. Joaquim era um adolescente quando foi morar na Vila Tenório. De lá, a família foi removida para Ceilândia. Até hoje, o barraco de madeira está lá, encantoado pela alvenaria da casa da frente. No começo desta semana, a casinha pioneira, colcha de retalho de madeira, começou a ser desmontada, tábua a tábua, para dar lugar a uma nova moradia.
Joaquim tem 57 anos, mas a dureza da vida lhe impôs uma velhice precoce. O poeta cordelista participou do inesquecível Movimento dos Incansáveis Moradores de Ceilândia, a mais ativa mobilização de sem teto da história de Brasília. Nos anos da ditadura, Joaquim escreveu Terracap contra Ceilândia, que serviu de base para uma dissertação de mestrado em sociologia da professora Safira Bezerra Amam, da UnB. O poeta paraibano gosta de contar que já foi convidado para debates universitários e se sentou ao lado de “altos acadêmicos”. O clássico cordel que conta a história do começo de Ceilândia está esgotado, mas Joaquim ainda guarda alguns exemplares de títulos preciosos, como o ABC de Ceilândia, em homenagem aos 37 anos da cidade que em 2011 completará 40 anos.
Joaquim registra o outro lado da história, o dos candangos que não estavam nos planos dos construtores da cidade. Fala de uma história “há muitos anos passados”, de um povo que teve o destino traçado para construir uma cidade em “terreno abandonado”.
De como foram iludidos: “Garantiram que aqui tinha/Tudo que se precisava/E com a Ceilândia a gente/A toda hora sonhava/Pra ver Ceilândia crescer/A população esperava”.
De como tiveram de ocupar com a coragem candanga o descampado sem começo nem fim, bem longe do Plano Piloto. “Quando chegava a Ceilândia/ Todo esse pessoal/ Parecia gado soldo/ No meio do matagal/ Era aquela correria/ Parecia um festival/Rezar era a melhor saída/ Pra se livrar do que se via/ Cobra e minhocuçu/ Toda hora aparecia/ No começo de Ceilândia/ Tudo isso aqui existia”.
Mais de três décadas depois, “morar em Ceilândia é orgulho/ Que a cada dia desperta/Onde não existia nada/E era área deserta/ Foi esta a única saída/ Pra fazer a coisa certa”.
Imortal da Academia Ceilandense de Letras, Joaquim escreve sua obra popular num cantinho do barraco de madeira, enquanto ele ainda não for derrubado de todo. Escreve à mão, depois pede pra alguém passar para o computador. Faz algum tempo, um certo deputado distrital prometeu editar o mais recente cordel de Joaquim, mas ficou só na promessa. Nenhuma novidade. A novidade é que Joaquim Bezerra Nóbrega continua contando a história do povo de Ceilândia. “Zelar por ti ó Ceilândia/ É a minha obrigação/ Acompanhei-te no começo/ Falo-te e não minto não/ Parabéns, minha Ceilândia/ Que eu guardo em meu coração”.
Conceição Freitas
Fonte: Correio Braziliense
Joaquim tem 57 anos, mas a dureza da vida lhe impôs uma velhice precoce. O poeta cordelista participou do inesquecível Movimento dos Incansáveis Moradores de Ceilândia, a mais ativa mobilização de sem teto da história de Brasília. Nos anos da ditadura, Joaquim escreveu Terracap contra Ceilândia, que serviu de base para uma dissertação de mestrado em sociologia da professora Safira Bezerra Amam, da UnB. O poeta paraibano gosta de contar que já foi convidado para debates universitários e se sentou ao lado de “altos acadêmicos”. O clássico cordel que conta a história do começo de Ceilândia está esgotado, mas Joaquim ainda guarda alguns exemplares de títulos preciosos, como o ABC de Ceilândia, em homenagem aos 37 anos da cidade que em 2011 completará 40 anos.
Joaquim registra o outro lado da história, o dos candangos que não estavam nos planos dos construtores da cidade. Fala de uma história “há muitos anos passados”, de um povo que teve o destino traçado para construir uma cidade em “terreno abandonado”.
De como foram iludidos: “Garantiram que aqui tinha/Tudo que se precisava/E com a Ceilândia a gente/A toda hora sonhava/Pra ver Ceilândia crescer/A população esperava”.
De como tiveram de ocupar com a coragem candanga o descampado sem começo nem fim, bem longe do Plano Piloto. “Quando chegava a Ceilândia/ Todo esse pessoal/ Parecia gado soldo/ No meio do matagal/ Era aquela correria/ Parecia um festival/Rezar era a melhor saída/ Pra se livrar do que se via/ Cobra e minhocuçu/ Toda hora aparecia/ No começo de Ceilândia/ Tudo isso aqui existia”.
Mais de três décadas depois, “morar em Ceilândia é orgulho/ Que a cada dia desperta/Onde não existia nada/E era área deserta/ Foi esta a única saída/ Pra fazer a coisa certa”.
Imortal da Academia Ceilandense de Letras, Joaquim escreve sua obra popular num cantinho do barraco de madeira, enquanto ele ainda não for derrubado de todo. Escreve à mão, depois pede pra alguém passar para o computador. Faz algum tempo, um certo deputado distrital prometeu editar o mais recente cordel de Joaquim, mas ficou só na promessa. Nenhuma novidade. A novidade é que Joaquim Bezerra Nóbrega continua contando a história do povo de Ceilândia. “Zelar por ti ó Ceilândia/ É a minha obrigação/ Acompanhei-te no começo/ Falo-te e não minto não/ Parabéns, minha Ceilândia/ Que eu guardo em meu coração”.
Conceição Freitas
Fonte: Correio Braziliense
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