quinta-feira, 22 de outubro de 2009

É do barulho!!!

A poluição sonora é um dos principais problemas ambientais enfrentados por quem vive no Distrito Federal. Por volta de 70% das 832 reclamações registradas este ano pelo Instituto Brasília Ambiental (Ibram) são relativas a esse tema. Ceilândia está entre as cidades com maior foco de barulho, especialmente na região central. São carros de som com propagandas, músicas que vêm de lojas e o ruído do trânsito intenso. Na manhã de ontem, o especialista em engenharia ambiental Sérgio Garavelli, a convite do Correio, avaliou a intensidade dos ruídos em decibéis nessa região. O máximo permitido pela Lei do Silêncio é de 60 decibéis (dB) durante o dia e 55dB à noite, em centros urbanos. Em alguns pontos de Ceilândia, o aparelho de medição registrou até 99,7dB. O excesso de agitação sonora pode causar dor de cabeça, estresse e, em casos mais graves, até surdez.

O local mais tumultuado da cidade é a região onde o comércio está mais forte. Cada loja dispõe do próprio sistema de som. Na maioria das vezes, as caixas de áudio ficam na calçada e em volume muito alto. Em um local de venda de sapatos, o som de um forró fez o aparelho atingir a segunda marcação mais alta, 93,7dB. O campeão de volume foi um camelô de CDs: sua caixa sonora emitiu 99,7dB. Os carros de som – eram mais de 10 em circulação no centro de Ceilândia na manhã de ontem – contribuem muito para a barulheira. Um deles chegou a atingir 86 dB. Esses veículos precisam de autorização do Departamento de Trânsito para trabalhar nas ruas, mas geralmente não têm a permissão e ultrapassam os limites da poluição sonora.

Quem passa pelo local sofre com a exposição, pode ter dores relacionadas à algazarra e não saber o motivo. Mas são os que trabalham na região os mais prejudicados com o barulho. “Quando chego em casa à noite, continuo escutando o zumbido e tenho dores na cabeça”, diz Roberval dos Santos, 26 anos. Leonardo Milhomen, 19 anos, colega de profissão de Roberval, não esquece o barulho do dia a dia nem quando dorme. “Até sonho com essas músicas”, afirma. A aposentada Antônia Fernandes, 64 anos, reclama da agitação. “Isso me perturba muito. Esses carros de som nos abrigam a escutar até quatro músicas ao mesmo tempo, todas em uma altura insuportável”, queixa-se.

Sérgio Garavelli explica o motivo dos transtornos de saúde desencadeados pelo alvoroço. “Níveis acima de 65dB causam danos variáveis devido às alterações hormonais provocadas pelo excesso de barulho. Um dos hormônios liberados com intensidade é o cortisol, responsável pelo estresse. A adrenalina no sangue também aumenta e desencadeia outros problemas”, relata.

Quem poderia resolver ou pelo menos amenizar os transtornos seria o Ibram, por meio da fiscalização. Mas há apenas três fiscais para atender a todo o DF. Eles vão a locais críticos quando recebem denúncias, mas não dão conta de todos os pedidos. A Administração Regional de Ceilândia também pode colaborar, mas alegou não ter recebido reclamações a respeito de poluição sonora na região. “Se um lugar não funciona como boate ou bar, não tem alvará de funcionamento para ter música”, reconheceu o administrador Leonardo Moraes, que atalhou: “Mas a administração não tem fiscais”. Denúncias podem ser feitas por meio dos telefones: 156, 190 (a Polícia Militar também tem poder de intervir) ou 3901-1272.



Fonte: Correio Braziliense

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