A transformação é rápida: em 15 minutos, Amarildo Alves, 39 anos, morador de Ceilândia Sul, deixa de ser um pai de família comum e se transforma no Homem Azul. Desde dezembro do ano passado, ele vaga pelos semáforos do Plano Piloto e interpreta uma estátua viva colorida inspirada no músico Raul Seixas. Sob a sombra de uma árvore, o homem pinta o rosto com uma mistura de creme e corante azul. E assim nasce o personagem caricato. Até os cabelos e o cavanhaque ganham coloração. A roupa é tingida com a mesma pigmentação, mas fica guardada dentro da mala carregada com dificuldade pelo corredor do ônibus lotado que leva Amarildo para o trabalho de segunda a sexta-feira bem cedo, às 7h30. O retorno ao lar só ocorre no fim do dia.
Quando sai de casa, Amarildo veste calça e blusa normais. Não é alto nem baixo. Nem gordo, nem magro. É mais um na multidão. Mas leva na bagagem os elementos que lhe dão uma aparência peculiar: óculos escuros com armação pintada de azul, luvas da mesma cor, chapéu panamá no mesmo tom, tênis azuis e um violão, é claro, cor do mar — emprestado da esposa, com a promessa nunca cumprida de devolução. A escolha na hora de se caracterizar foi por eliminação. “Queria fazer algo diferente do prata, que muitas estátuas vivas usam. Não gosto de vermelho nem de amarelo. Escolhi o azul para chamar atenção”, justificou. Mas o tom já trouxe associações não muito bem-recebidas pelo artista. “Tem gente que pergunta se eu gosto do Roriz. Não tem nada a ver. Aqui em Brasília, os políticos roubaram até as cores para eles”, brincou.
Amarildo percorre os sinais de trânsito que ficam mais tempo no vermelho, na Asa Sul. “Nos da W3 Sul, por exemplo, não dá para passar muito tempo, ficam mais no verde que no vermelho”, explica. Tudo isso porque, depois da performance de estátua, que dura 40 segundos em cima de um banquinho, ele passa devagar entre os carros para receber o pagamento por sua arte. “Eu não peço nada, só passo com o chapéu e quem quiser coloca o dinheiro.” Ele troca de ponto com frequência, para explorar novos olhares e atrair um público diferente. Muitos param para fotografá-lo e dezenas de pessoas, diariamente, depositam um moeda ou cédula no chapéu como forma de incentivar a arte. O trabalho é influenciado pela natureza: se chove, não há expediente. O suor provocado pelo calor do sol, porém, não faz a maquiagem derreter.
A profissão de Amarildo é artista de rua, mas muitos o confundem com um mendigo. “Muita gente me admira, para, faz até foto e elogia. Uma vez uma senhora me deu R$ 50. Mas tem um povo que não entende. Um dia, uma mulher começou a me chutar, disse que era evangélica e que isso era coisa do demônio. Outros me mandam procurar emprego. Mas faz parte, é gente sem cultura”, explicou.
No início, o rapaz sentia-se ofendido e até humilhado. Mas acostumou-se e hoje exerce o ofício sem qualquer constrangimento. “Comecei por falta de opção mesmo. Montei um negócio ambulante no meio da rua em Ceilândia de fotomontagem — fazia imagem de pessoas comuns ao lado de famosos, manipuladas no computador. Mas sempre tinha que fugir da fiscalização, porque não era autorizado. Agora, estou nesse outro ramo, que não precisa de muito investimento e não paga imposto. A necessidade faz perder a vergonha.”
A melhor época para o negócio de Amarildo é o Natal. “O espírito natalino toma conta das pessoas, elas ficam bondosas e eu ganho até R$ 40 por dia”, contou. Mas, quando passa a comemoração do nascimento de Jesus, o público volta ao normal. “O ganho varia muito. Tem dia que tiro R$ 10, em outros são R$ 20”, afirmou. Boa parte das pessoas, porém, dá a ele apenas atenção.
Para ler na íntegra, visite o site da fonte.
Fonte: Correio Braziliense
Quando sai de casa, Amarildo veste calça e blusa normais. Não é alto nem baixo. Nem gordo, nem magro. É mais um na multidão. Mas leva na bagagem os elementos que lhe dão uma aparência peculiar: óculos escuros com armação pintada de azul, luvas da mesma cor, chapéu panamá no mesmo tom, tênis azuis e um violão, é claro, cor do mar — emprestado da esposa, com a promessa nunca cumprida de devolução. A escolha na hora de se caracterizar foi por eliminação. “Queria fazer algo diferente do prata, que muitas estátuas vivas usam. Não gosto de vermelho nem de amarelo. Escolhi o azul para chamar atenção”, justificou. Mas o tom já trouxe associações não muito bem-recebidas pelo artista. “Tem gente que pergunta se eu gosto do Roriz. Não tem nada a ver. Aqui em Brasília, os políticos roubaram até as cores para eles”, brincou.
Amarildo percorre os sinais de trânsito que ficam mais tempo no vermelho, na Asa Sul. “Nos da W3 Sul, por exemplo, não dá para passar muito tempo, ficam mais no verde que no vermelho”, explica. Tudo isso porque, depois da performance de estátua, que dura 40 segundos em cima de um banquinho, ele passa devagar entre os carros para receber o pagamento por sua arte. “Eu não peço nada, só passo com o chapéu e quem quiser coloca o dinheiro.” Ele troca de ponto com frequência, para explorar novos olhares e atrair um público diferente. Muitos param para fotografá-lo e dezenas de pessoas, diariamente, depositam um moeda ou cédula no chapéu como forma de incentivar a arte. O trabalho é influenciado pela natureza: se chove, não há expediente. O suor provocado pelo calor do sol, porém, não faz a maquiagem derreter.
A profissão de Amarildo é artista de rua, mas muitos o confundem com um mendigo. “Muita gente me admira, para, faz até foto e elogia. Uma vez uma senhora me deu R$ 50. Mas tem um povo que não entende. Um dia, uma mulher começou a me chutar, disse que era evangélica e que isso era coisa do demônio. Outros me mandam procurar emprego. Mas faz parte, é gente sem cultura”, explicou.
No início, o rapaz sentia-se ofendido e até humilhado. Mas acostumou-se e hoje exerce o ofício sem qualquer constrangimento. “Comecei por falta de opção mesmo. Montei um negócio ambulante no meio da rua em Ceilândia de fotomontagem — fazia imagem de pessoas comuns ao lado de famosos, manipuladas no computador. Mas sempre tinha que fugir da fiscalização, porque não era autorizado. Agora, estou nesse outro ramo, que não precisa de muito investimento e não paga imposto. A necessidade faz perder a vergonha.”
A melhor época para o negócio de Amarildo é o Natal. “O espírito natalino toma conta das pessoas, elas ficam bondosas e eu ganho até R$ 40 por dia”, contou. Mas, quando passa a comemoração do nascimento de Jesus, o público volta ao normal. “O ganho varia muito. Tem dia que tiro R$ 10, em outros são R$ 20”, afirmou. Boa parte das pessoas, porém, dá a ele apenas atenção.
Para ler na íntegra, visite o site da fonte.
Fonte: Correio Braziliense
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