domingo, 2 de janeiro de 2011

Virada sem brilho

Para frustração dos brasilienses, 2011 entrou silencioso e sem brilho na Esplanada dos Ministérios. Embora o Governo do Distrito Federal tenha gastado quase R$ 7 milhões com as festividades de fim de ano, a esperada queima de fogos de artifício foi suspensa a menos de duas horas da chegada de 2011. Nota divulgada pela Secretaria de Cultura do DF informou à imprensa que o show pirotécnico não ocorreria. A população, a mais interessada no espetáculo, foi esquecida. As quase 70 mil pessoas que estavam na Esplanada dos Ministérios à espera do foguetório, debaixo de chuva, desistiram depois da contagem regressiva. Ao fundo, um brilho longínquo. Eram os fogos disparados do prédio da matriz da Caixa Econômica Federal (CEF) — única visão que pôde ser admirada.

A melancólica despedida do governo-tampão de Rogério Rosso, em um dos piores anos da história política da capital da República, não foi poupada de críticas. “Eles gastam milhões com esses shows que ninguém quer ver e do que mais importa para a população simplesmente abrem mão?”, reclamou o zelador Sebastião de Carvalho Macedo, 39 anos, que levou o filho Mateus Henrique Lopes Macedo, 15, até a Esplanada unicamente para ver a queima de fogos. “Para piorar as coisas, nem avisam a gente. Muitas pessoas pegaram chuva esperando os fogos que não iam ter. Eu fui uma delas”, completou.

De acordo com a Secretaria de Cultura, o cancelamento do show pirotécnico ocorreu pela ausência de licitação para a compra dos fogos de artifício, o que impossibilitou a solicitação do serviço. O secretário de Cultura, Carlos Alberto de Oliveira, disse que na última sexta-feira foram estudadas diversas saídas para a realização do show, mas nenhuma foi encontrada. Ele lamentou a ausência dos fogos e afirmou que tal medida foi tomada a fim de zelar pela legalidade de todas as ações relativas às festividades de fim de ano na capital do país. Oliveira pediu ainda a compreensão de todos os presentes. A reportagem do Correio tentou falar com o agora ex-governador Rogério Rosso (PMDB) sobre a interrupção da tradição, mas a assessoria de imprensa informou que ele não comentaria o assunto.

“É um absurdo essa situação. Eles chamam as pessoas para virem aqui e não avisam sobre as mudanças?”, indignou-se o gerente comercial Ronaldo Alves de Souza, 33 anos. Ele a mulher e os filhos aguardaram até o último momento de 2010 com os olhos voltados para o céu. “Já é tão automático. A gente realmente esperava ver a queima de fogos. Acredito que por se tratar do dia da posse de Dilma como presidente deveria ser diferente. Estamos realmente revoltados. Esse foi o pior ano na Esplanada dos Ministérios”, acrescentou a autônoma Patrícia de França Pereira, 33 anos, mulher de Ronaldo.

Na hora da virada, a contagem regressiva ficou por conta da bateria da Associação Recreativa Cultural Unidos do Cruzeiro (Aruc). Algumas pessoas chegaram a levar fogos de artifício, que puderam ser vistos esparsamente brilhando no céu. Mas a chuva que caia na ocasião acabou contribuindo também para que muita gente fosse para casa cedo. Dez minutos depois da meia-noite, a Esplanada dos Ministérios começava a esvaziar.

A família da secretária Gláucia Silva, 37 anos, foi uma das que deixou o local nos primeiros minutos do ontem. Além de ter ficado decepcionada por não ter visto o foguetório, ela correu do mau tempo para evitar que a filha de dois anos pegasse um resfriado. Ela e o marido saíram de Goiânia para prestigiar a festa na Esplanada.



Fonte: Correio Braziliense

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