Li o texto “Os muito brasilienses” da Conceição Freitas, que foi publicada no Correio Braziliense de 28 de outubro de 2009 e não agüentei, precisei comentar, pois ela tocou justamente num tema que nunca consegui engolir: a naturalidade brasiliense dos nascidos nas cidades-satélites de Brasília.
Na minha opinião a Conceição tem uma visão romantizada, para não dizer equivocada das coisas. Longe de mim querer tirar os méritos da jovem cidade criada para ser a capital do país, mas acredito que reduzir a naturalidade de tantas cidades diferentes, com características históricas e culturais singulares à única categoria de brasiliense é no mínimo pretensioso. Pretensioso, além de geográfica e culturalmente impossível, pois tanto Brasília quanto suas "satélites" pertencem a um único todo, que é o Distrito Federal.
Não há porque chamar ceilandenses, taguatinguenses, sobradinhenses de brasilienses. Isto é, de certa forma, usurpar a identidade cultural dessas pessoas. Pensemos bem: o que são as cidades-satélites? São cidades ao redor de Brasília, ou seja, são de Brasília, mas não são Brasília. E para quê chamar de brasiliense quem não nasceu em Brasília? Soa como uma forma de transmitir a idéia de democracia da nova capital federal. O velho papo-furado do regime democrático, onde todos têm voz. Uma idéia que pelo jeito funciona bem no plano do discurso, mas quem mora nas cidades-satélites sabe que a realidade é bem diferente disto. Experimente perguntar a qualquer um que mora em Brasília: você considera Samambaia, Gama, Recanto das Emas e as outras cidades-satélites parte de Brasília? Adivinha o que eles vão te responder...
Este assunto me lembrou uma tira em quadrinhos dos personagens “O padre e o anjo” do artista ceilandense Sidiney Breguedo, da qual transcrevo o diálogo a seguir.
Padre: - O Breguedo me criou, me criou na Ceilândia.
Anjo: - O que é a Ceilândia?
Padre: - A Ceilândia é uma cidade satélite!
Anjo: - Por que satélite?
Padre: - Porque tem que ficar lá no espaço, bem longe de Brasília!
O Breguedo disse tudo.
Os nascidos nas satélites só são aclamados como brasilienses quando ganham algum prêmio que possa trazer destaque à capital, como exemplo mais recente a Ketleyn Quadros, judoca campeã nas Olimpíadas de Pequim em 2008. Procure alguma notícia que a denomine ceilandense, como de fato ela é. Na hora da glória, todo mundo vira brasiliense...
Se nós, das satélites, fôssemos considerados realmente brasilienses como a Conceição diz, teríamos os mesmos direitos que a população de Brasília tem: jardins bem cuidados, mais segurança nas ruas, iluminação decente da cidade, asfalto em todas as vias, parques ecológicos para lazer da população, teatros, espaços culturais, museus, escolas públicas decentes, ah! Escolas-parque também...
Preciso falar mais alguma coisa?
Adriano Carvalho
Fonte: Por email.
Na minha opinião a Conceição tem uma visão romantizada, para não dizer equivocada das coisas. Longe de mim querer tirar os méritos da jovem cidade criada para ser a capital do país, mas acredito que reduzir a naturalidade de tantas cidades diferentes, com características históricas e culturais singulares à única categoria de brasiliense é no mínimo pretensioso. Pretensioso, além de geográfica e culturalmente impossível, pois tanto Brasília quanto suas "satélites" pertencem a um único todo, que é o Distrito Federal.
Não há porque chamar ceilandenses, taguatinguenses, sobradinhenses de brasilienses. Isto é, de certa forma, usurpar a identidade cultural dessas pessoas. Pensemos bem: o que são as cidades-satélites? São cidades ao redor de Brasília, ou seja, são de Brasília, mas não são Brasília. E para quê chamar de brasiliense quem não nasceu em Brasília? Soa como uma forma de transmitir a idéia de democracia da nova capital federal. O velho papo-furado do regime democrático, onde todos têm voz. Uma idéia que pelo jeito funciona bem no plano do discurso, mas quem mora nas cidades-satélites sabe que a realidade é bem diferente disto. Experimente perguntar a qualquer um que mora em Brasília: você considera Samambaia, Gama, Recanto das Emas e as outras cidades-satélites parte de Brasília? Adivinha o que eles vão te responder...
Este assunto me lembrou uma tira em quadrinhos dos personagens “O padre e o anjo” do artista ceilandense Sidiney Breguedo, da qual transcrevo o diálogo a seguir.
Padre: - O Breguedo me criou, me criou na Ceilândia.
Anjo: - O que é a Ceilândia?
Padre: - A Ceilândia é uma cidade satélite!
Anjo: - Por que satélite?
Padre: - Porque tem que ficar lá no espaço, bem longe de Brasília!
O Breguedo disse tudo.
Os nascidos nas satélites só são aclamados como brasilienses quando ganham algum prêmio que possa trazer destaque à capital, como exemplo mais recente a Ketleyn Quadros, judoca campeã nas Olimpíadas de Pequim em 2008. Procure alguma notícia que a denomine ceilandense, como de fato ela é. Na hora da glória, todo mundo vira brasiliense...
Se nós, das satélites, fôssemos considerados realmente brasilienses como a Conceição diz, teríamos os mesmos direitos que a população de Brasília tem: jardins bem cuidados, mais segurança nas ruas, iluminação decente da cidade, asfalto em todas as vias, parques ecológicos para lazer da população, teatros, espaços culturais, museus, escolas públicas decentes, ah! Escolas-parque também...
Preciso falar mais alguma coisa?
Adriano Carvalho
Fonte: Por email.
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