O cineasta Adirley Queirós acaba de concluir as filmagens de A cidade é uma só, o quarto filme da carreira. Na obra, ele tece experimentos cinematográficos baseados nos ensinamentos dos franceses Edgard Morin e Jean Rouch (pioneiros do cinema verdade durante os anos 1960). Misturando documentário e ficção, a fita cruza histórias reais e fictícias de habitantes de Ceilândia e de Águas Lindas. "Não existe contemplação. Os personagens enxergam o Plano Piloto entre cochilos dentro do ônibus ou pelo movimento de motos na correria do dia a dia", explica. A premissa é o depoimento real de Nancy Araujo.
Em 1970, Nancy era uma criança, moradora da área que mais tarde ficaria conhecida como Ceilândia, escolhida para fazer parte do coral que cantaria o jingle da cínica campanha A cidade é uma só, encabeçada por uma socialite da época e pelo governador Hélio Prates. "Nancy andou de avião e pela primeira vez conheceu o Plano Piloto. Ela e outras 15 crianças cantavam a música da campanha feita para expulsá-los do DF", resumiu o diretor, com indignação.
Queirós dispara palavras com velocidade, articulando discurso honesto sobre as tensões entre centro e periferia. "Eu não me considero um cineasta de periferia. Engraçado, quando a gente exibe nossos filmes fora de Brasília, ninguém vê a gente assim. Não existe paternalismo ou condescendência", declara.
No que pode soar como uma contradição para alguns, o cineasta é defensor ferrenho do patrocínio do Estado por meio de editais, como chance de amadurecimento de coletivos de cinema. "Eu ouço, em depoimentos, o pessoal dizendo que fez filmes sem custo. Isso é um desserviço. Historicamente, a periferia não teve acesso as tecnologias necessárias para a realização de um filme como a classe média brasiliense já tem. Não estou dizendo que isso é um problema. O que me preocupa muito é o jeito que se articula essa hierarquia de poder. A gente luta por mercado, por maior apoio do Estado. O FAC (Fundo de Apoio à Cultura/GDF) e o MinC são importantes sim. Ninguém faz filme de graça. O dinheiro tem sempre de sair de algum lugar", dispara.
Uma breve biografia do cineasta Adirley Queirós, 40 anos, inclui uma trajetória como jogador de futebol profissional do Ceilândia. Uma contusão no tornozelo o tiraria do esporte para sempre. Fez o curso de cinema da Universidade de Brasília (UnB) somente para poder exibir uma carteirinha de estudante universitário e evitar os baculejos da polícia. "Nunca tinha visto um documentário na vida. No primeiro dia de aula, me deu vontade de sair correndo. Minha cultura audiovisual era Rambo e Sessão da Tarde", relembra.
O projeto de conclusão de curso, o documentário Rap, o canto da Ceilândia, foi ovacionado no 38º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, em 2005, levando os prêmios de melhor curta-metragem em 35mm eleito pelos júris popular e oficial.
O Rap seria a semente do Coletivo de Cinema em Ceilândia (CeiCine), que também produziu o documentário sobre os bastidores da segunda divisão do futebol candango Fora de campo, baseado na história pessoal do realizador. Exibido no festival É tudo verdade deste ano, arrancou elogios da crítica e foi o único brasileiro selecionado no Festival Docs, do México. O curta-metragem Dias de greve recebeu o troféu Câmara Legislativa no Festival Brasília do Cinema Brasileiro do ano passado.
Para ler na íntegra, visite o site da fonte.
Fonte: Correio Braziliense
Em 1970, Nancy era uma criança, moradora da área que mais tarde ficaria conhecida como Ceilândia, escolhida para fazer parte do coral que cantaria o jingle da cínica campanha A cidade é uma só, encabeçada por uma socialite da época e pelo governador Hélio Prates. "Nancy andou de avião e pela primeira vez conheceu o Plano Piloto. Ela e outras 15 crianças cantavam a música da campanha feita para expulsá-los do DF", resumiu o diretor, com indignação.
Queirós dispara palavras com velocidade, articulando discurso honesto sobre as tensões entre centro e periferia. "Eu não me considero um cineasta de periferia. Engraçado, quando a gente exibe nossos filmes fora de Brasília, ninguém vê a gente assim. Não existe paternalismo ou condescendência", declara.
No que pode soar como uma contradição para alguns, o cineasta é defensor ferrenho do patrocínio do Estado por meio de editais, como chance de amadurecimento de coletivos de cinema. "Eu ouço, em depoimentos, o pessoal dizendo que fez filmes sem custo. Isso é um desserviço. Historicamente, a periferia não teve acesso as tecnologias necessárias para a realização de um filme como a classe média brasiliense já tem. Não estou dizendo que isso é um problema. O que me preocupa muito é o jeito que se articula essa hierarquia de poder. A gente luta por mercado, por maior apoio do Estado. O FAC (Fundo de Apoio à Cultura/GDF) e o MinC são importantes sim. Ninguém faz filme de graça. O dinheiro tem sempre de sair de algum lugar", dispara.
Uma breve biografia do cineasta Adirley Queirós, 40 anos, inclui uma trajetória como jogador de futebol profissional do Ceilândia. Uma contusão no tornozelo o tiraria do esporte para sempre. Fez o curso de cinema da Universidade de Brasília (UnB) somente para poder exibir uma carteirinha de estudante universitário e evitar os baculejos da polícia. "Nunca tinha visto um documentário na vida. No primeiro dia de aula, me deu vontade de sair correndo. Minha cultura audiovisual era Rambo e Sessão da Tarde", relembra.
O projeto de conclusão de curso, o documentário Rap, o canto da Ceilândia, foi ovacionado no 38º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, em 2005, levando os prêmios de melhor curta-metragem em 35mm eleito pelos júris popular e oficial.
O Rap seria a semente do Coletivo de Cinema em Ceilândia (CeiCine), que também produziu o documentário sobre os bastidores da segunda divisão do futebol candango Fora de campo, baseado na história pessoal do realizador. Exibido no festival É tudo verdade deste ano, arrancou elogios da crítica e foi o único brasileiro selecionado no Festival Docs, do México. O curta-metragem Dias de greve recebeu o troféu Câmara Legislativa no Festival Brasília do Cinema Brasileiro do ano passado.
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Fonte: Correio Braziliense
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