segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Ano da dengue

Febre alta, dores fortes no corpo, fraqueza e manchas vermelhas na pele. Desde o início de janeiro, 12.363 brasilienses tiveram que encarar todos esses sintomas durante pelo menos uma semana. Deixaram de lado o trabalho e as atividades cotidianas para vencer o vírus da dengue. Entre eles, sete pessoas não resistiram à infecção e morreram. Mesmo com ações de prevenção e com a mobilização da sociedade, a doença aparece principalmente nos períodos de chuva. Mas, em 2010, as estatísticas surpreenderam até mesmo autoridades e especialistas em saúde. A quantidade de pessoas infectadas pela dengue cresceu impressionantes 2.886% em comparação com o ano passado. Em 2009, haviam sido registrados apenas 414 casos.

O início de uma nova temporada chuvosa traz novamente a preocupação com a dengue. Principalmente porque todos os fatores que levaram à epidemia registrada este ano permanecem sem solução. Seriam necessários pelo menos 1,2 mil agentes de Vigilância Ambiental para percorrer as casas e orientar a população sobre as formas de prevenção contra a doença. Mas o Distrito Federal conta apenas com 500 fiscais, menos da metade do contingente recomendado pelo Ministério da Saúde para uma região com mais de 2,4 milhões de moradores. E não há previsão para ampliar esse quadro de pessoal.

Além disso, os cuidados da população para prevenir novos casos estão longe do ideal. Basta circular rapidamente por qualquer região do Distrito Federal para encontrar exemplos de irresponsabilidade. Lixo acumulado, entulhos, garrafas e recipientes abandonados, além de caixas d’água destampadas podem ser vistos tanto em regiões de baixa renda como em áreas de classe alta, como o Lago Sul.

A cidade mais atingida pela dengue em 2010 foi Planaltina, onde 4.835 pessoas contraíram a doença de janeiro até agora. Esse número corresponde a quase 40% de todos os casos do DF. Setores mais carentes, como Mestre d’Armas, Arapoanga, Estâncias e Vale do Amanhecer concentram a maior parte dos registros.

A balconista Antônia Maria de Carvalho, 28 anos, faz parte dessa estatística. Moradora do Estâncias, em Planaltina, ela foi infectada pelo vírus da dengue em setembro. “Achei que fosse morrer na cama da minha casa”, revela. Na casa de Antônia, mais duas pessoas contraíram a doença, entre elas o filho de apenas oito anos. “Tive febre, dor e fiquei com uns pontinhos vermelhos no corpo. Passei muito, mas muito mal”, relembra a balconista.

Ela acredita ter sido picada pelo mosquito Aedes aegypti, transmissor da dengue, enquanto caminhava por uma rua cheia de terrenos baldios. “Era uma parte da cidade cheia de lama e de entulhos. Na hora, ainda senti a picada, mas não poderia imaginar que ficaria tão doente”, comenta Antônia Maria. Ela garante que agora está mais cuidadosa com a prevenção. “Mas minha preocupação não diminui porque sei que a maioria dos vizinhos não toma cuidados. Me canso de ver vasos de planta cheios de água e garrafas abandonadas”, finaliza a balconista, moradora de Planaltina.

O Levantamento de Índice Rápido de Infestação por Aedes aegypti, realizado pelo Ministério da Saúde e divulgado no último dia 11, mostrou que a situação em Brasília é, hoje, satisfatória. A pesquisa identifica onde estão concentrados os focos do mosquito nos 425 municípios analisados pelos técnicos. Mas, para o coordenador do Programa de Combate à Dengue da Secretaria de Saúde do DF, Aílton Domício, o quadro segue preocupante. Ele garante que os técnicos e os agentes estão todos na rua para evitar a repetição da epidemia no verão de 2011. “Sempre tivemos, no máximo, cerca de mil casos por ano. Em 2010, foram mais de 12 mil registros. As estatísticas extrapolaram muito além do normal”, explica.



Fonte: Correio Braziliense

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