segunda-feira, 14 de abril de 2008

Lutas do Sol Nascente

A história do Condomínio Sol Nascente é de verdadeira luta. A principal, talvez, seja a de quem busca moradia e que acaba se chocando com a luta do ordenamento populacional do Distrito Federal, uma unidades federativas que mais crescem em área urbana no país. Com uma vasta extensão da Feira do Produtor ao Caic, passa de 23 mil o número de famílias vivendo em condições variadas. A maioria está em situação precária, em barracos improvisados com poucos metros quadrados. A história dos residentes é cercada de dificuldades e os relatos de luta são muitos.

Paulo Rogério da Silva, morador do condomínio há seis anos, viu muita coisa mudar e acontecer no lugar desde que se instalou. Atraído pela promessa do então governador Joaquim Roriz, de regularizar o lugar, comprou seu lote e construiu sua pequena casa. "Quando eu cheguei já havia água da Caesb mesmo, o que me deu mais esperança de que a regularização fosse acontecer logo. Mas até hoje está essa incerteza. Luz, só de gambiarra, e o IPTU não perdoa. E esse monte de lixo aqui próximo ao Caic, além do esgoto correndo nas ruas, piora muito nossas condições de vida", declara.

Segundo Paulo, um dos problemas é a reciclagem feita de maneira imprópria, reunindo lixo perto das residências e a falta de consciência dos moradores. "Não culpo os catadores, eles só tentam ganhar a vida honestamente. Mas o governo devia ceder um espaço longe das casas para que eles trabalhassem. A população que mora aqui também devia colaborar, assim como os vizinhos ao Sol Nascente. Só de cachorros mortos jogados nas ruas foram três nesse mês", desabafa o morador.

Para quem chegou há pouco, as dúvidas quanto ao futuro são a maior preocupação. José Jesus é um dos catadores e mora no condomínio há três anos com sua família. Pensa diariamente no destino que o aguarda. "Vim para cá por falta de opção, e mesmo vivendo nas condições em que estamos, esse barraco é tudo que a gente tem. Pagamos pelo lugar e vivemos agora esse drama, sem saber para onde vamos, já que o governo prometeu lugar só para quem mora há pelo menos cinco anos. E esse é o problema de muita gente daqui", se aborrece o catador.

E quem é vizinho do condomínio também se envolve na causa, como descreve a moradora do P Sul, Carla Dias. "É complicado morar por aqui, nas redondezas do Sol Nascente. Depois das oito horas da noite, não dá pra circular por perto que fica perigoso, acontecem muitos crimes barra pesada por ali. No mais, é uma gente boa, a grande maioria trabalhadora, lutando para ter uma vida melhor como todos nesse mundo", resume.

Apesar da ordem do GDF de paralisação das construções, em alguns pontos ainda existem obras. Pequenos cômodos ajeitados em meio ao amontoado de casas e ruas estreitas. "Aqui tudo fica na base da esperança, não é? Para quem é pobre só resta tentar, já que não temos outro lugar para morar. Já estou construindo sabendo que não vou ficar muito tempo. Mas quem sabe até lá minha situação já melhorou. O jeito é esperar para ver quando o governo vai chegar até nós", diz, embaraçado, o pedreiro Laerte Gomes.


Fonte: Tribuna do Brasil

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